Nas categorias de base, o futuro é quase sempre incerto. Principalmente no Brasil, em que a chance de despontar no futebol profissional é exceção. Para o meia Fernando Soares, no entanto, mais conhecido como Fernandinho, no Sub-15 do Sport, a base é motivo de esperança. Natural do bairro de Brasília Teimosa, na zona sul do Recife, ele está entre os pratas da casa acertados com o Flamengo e, aos 13 anos, diz realizar um sonho de família.

“A sensação é única. É uma realização de um dos meus sonhos. Teve momentos que pensei em desistir do futebol, por causa de problemas dentro de um dos clubes que passei, depois me recuperei e segui em frente. O que me motiva é o apoio da minha família e a vontade de querer dar uma vida melhor para eles.“

A mãe, Cristiane de Lima, que trabalha como secretária do lar, acompanhou o menino em maior parte das viagens com as equipes juniores. O pai, Elias Soares, por vezes, assistiu o crescimento do filho no futebol à distância, porque o ofício como taxista pouco permitiu a ele deixar o Recife no período de jogos. Mesmo assim, Elias divide uma história determinante com Fernandinho, que tenta realizar, ao lado do pai e do irmão, o sonho de fazer carreira como jogador profissional.

– Meu pai e meu irmão tentaram ser atletas profissionais, mas não conseguiram. Minha família sempre me apoiou muito, quando eu tinha sete anos, vi que queria seguir o sonho de ser atleta e estou até hoje batalhando a cada dia, tentando dar o meu melhor. Eles ficaram muito felizes e emocionados, porque estão nessa luta diária a mais de seis anos, em viagem e competições.

Cristiane conta que, na época em que Elias tentou seguir carreira de atleta, as oportunidades eram escassas. Quando chegou o filho mais velho, sem conseguir estudo com o esporte, ela mesma decidiu por tirá-lo. Com Fernando, o cenário mudou. E há um mês, ele se mostrou consciente do que, mesmo com a pouca idade, leva guardado na mala. No aniversário do pai, dia 17 de abril, escreveu um texto de presente.

“Fernando disse que ia em busca dos sonhos do pai. Que não era fácil sair seis da manhã e chegar oito da noite, mas que era o sonho dele e ele ia realizar, para o pai nunca mais precisar trabalhar. Quando o Sport ligou, perguntando se aceitaríamos a negociação, ele falou: ‘Mãe, é meu sonho, vou sofrer nos primeiros dias, mas não vou deixar você e meu irmão saindo todos os dias em busca do ganha pão’.”

Fernando chegou à base do Sport no ano passado — Foto: Arquivo Pessoal

Fernando chegou à base do Sport no ano passado — Foto: Arquivo Pessoal

A família de Fernando vinha se preparando para a possibilidade de ver o menino deixar o Recife, porque sabiam que ele estava sendo avaliado pelo Flamengo. Agora, a ideia de Cristiane é ficar as primeiras duas semanas no Rio de Janeiro, para assinar documentação e conhecer o processo. E manter visitas mensais, quando possível.

“Depois de um ano, eu pretendo passar uns meses. Estou conseguindo umas casas aqui, então tendo uma renda fica mais fácil sair daqui. Mas sentamos, perguntamos se ele queria que a gente fosse agora, ele disse que não, quer se estabilizar e amadurecer. A gente fica apreensivo, mas sabe que vida de jogador é isso mesmo. E ele tem uma cabeça muito boa, digo a ele: ‘Acho que você tem 60 anos.’”

Camisa 10 do Sport, Fernando passou por Náutico e Santa Cruz antes de chegar à Ilha do Retiro, ainda para o Sub-13, no ano passado. Ele está entre os atletas do Leão que, em meio à falta de perspectiva de competições e dificuldades financeiras do clube, foram repassados para lucrar com futuras vendas.

Isso porque, segundo o presidente Milton Bivar, o Leão mantém 40% dos direitos dos atletas. Como se trata de um atleta menor de idade, o percentual de uma futura negociação fica a cargo de um acordo entre clubes. Uma vez que o meia não assinou contrato profissional, que só pode ser firmado a partir dos 16 anos, de acordo com a Lei Pelé. (Globo Esporte)