Sempre que surge uma crítica ao governo, é comum nas redes sociais, algum cidadão que diz que a pessoa está “torcendo contra”. Mas será que o termo torcer pode ser aplicado a gestão pública? Os resultados de um governo são frutos do desenvolvimento – ou da ausência – de políticas, programas e ações.
Nas últimas décadas, tem ficado cada vez mais claro a importância de realizar ações planejadas, com base em dados, estudos técnicos e com desenvolvimento acompanhado de perto, por meio de indicadores para cada uma das metas estabelecidas. Isso deve ocorrer para que seja garantida a eficiência dos recursos públicos, uma boa governança das ações e transparência para a população e para os órgãos de controle.
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Durante as eleições de 2018, ficou claro a falta de conexão entre os itens do plano de governo do Bolsonaro. Porém, para surpresa de muitos, quando o governo iniciou suas ações, as propostas continuaram seguindo esse mesmo caminho, sendo muitas delas meros esboços apresentados em PowerPoint, sem métricas ou dados, ou às vezes, nem mesmo caminhos claros para consolidação daquelas ideias.
Uma das primeiras ações do Governo Federal foi eliminar inúmeros conselhos consultivos temáticos que existiam. Estes conselhos cumpriam importantes funções para permitir o diálogo entre a sociedade civil e as políticas governamentais. Isso porque, existem inúmeras instituições representativas de trabalhadores, empregadores e setores organizados da sociedade, que são partes afetadas por cada uma das ações governamentais. Quando se constrói uma política de forma conjunta com esses segmentos, é muito mais fácil conseguir criar consensos e estabelecer políticas e programas de ações que sejam sólidos e aplicáveis.
Mesmo sem a participação destas instituições, era possível o Governo Federal conseguir desenvolver programas sólidos, desde que construísse suas propostas sobre bases de informações técnicas, que podem nortear os programas do início ao fim, buscando alcançar os resultados desejados. Mas não é o que está acontecendo, já que os dados técnicos estão sendo constantemente substituídos por achismos.
Um exemplo foi o choque de energia, proposto por Paulo Guedes, que prometeu a redução do gás em até 50% no caso da venda da subsidiária TAG (Transportadora Associada de Gás) da Petrobras, o resultado desastroso foi o aumento do valor do produto, já que além de ter vendido a preço de banana, a empresa agora precisa pagar um aluguel caríssimo sobre os gasodutos que ela mesmo construiu, e é claro, esse valor foi repassado para o consumidor.
Podia citar outros exemplos de planos, sem planos, ou seja, ideias propostas sem que fossem realizados estudos prévios, como por exemplo, o “Future-se”, o plano de recuperação econômica ou o plano “Lavra”, entre muitos outros. Essas ações foram lançadas, sem que fossem realizados estudos técnicos e/ou uma discussão adequada. Por isso, as ideias ou não se concretizam, ou custam caro para o país devido aos erros estruturais nas propostas. De uma forma ou de outra, o prejuízo fica para o cidadão.
Se você é contra a corrupção e se defende a transparência e eficiência dos recursos públicos, eu tenho certeza que concorda comigo. Agora se quer apenas passar pano para uma gestão desastrosa que até agora tem se mostrado eficiente apenas em arrumar confusão nacional e internacional, saiba que você está contribuindo muito para os desastres, econômico e social, que estão ocorrendo. Precisamos de um governo sério que faça política pública de verdade. Torcida não resolve gestão, no máximo derruba técnico ruim no futebol.
*CAIUBI EMAUEL SOUZA KUHN é professor do Instituto de Engenharia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); Campus Várzea Grande Geólogo, mestre em geociências e especialista em gestão pública.
E-MAIL: caiubigeologia@hotmail.com
CONTATO: www.facebook.com/caiubi.kuhn