Gabigol foi protagonista do Flamengo de Jorge Jesus em 2019. Dono de números impressionantes, comemorou títulos e marcas individuais, como a de artilheiro do Brasil com 43 gols e prêmio de “Rei da América”. Mas a obsessão pelo sucesso não atingiu o auge ao fim da temporada. Focado, o atacante de 23 anos acrescentou novas armas ao repertório e apareceu ainda mais completo em 2020.
A inteligência de Gabriel dentro de campo chama a atenção – até mais do que as bolas na rede. Sem perder o faro de gol e com o mesmo apetite, parece ter incorporado algumas das qualidades de Arrascaeta, Bruno Henrique e Everton Ribeiro ao seu jogo. Transformou o goleador num jogador mais versátil.
A movimentação atingiu outro nível. O Gabigol versão 2019, em certos momentos, abandonava o ataque para buscar bola quase ao lado de Arão por puro instinto, às vezes de forma desordenada. Desde a estreia contra o Resende, em fevereiro, os movimentos são mais conscientes e sincronizados. Todo deslocamento tem um objetivo e abre espaço para os companheiros. O artigo é do jornalista Igor Rodrigues.
Com 11 gols em 12 jogos, o atacante não abandonou a famosa plaquinha que tomou conta da torcida. Mas outro número cresce a cada momento. Das 20 assistências com a camisa do Flamengo, oito saíram em 2020 (mais do que o triplo de sua melhor média na carreira). A primeira na vitória por 2 a 0 diante do Volta Redonda, por exemplo, escancara a evolução: como um verdadeiro camisa 10, teve percepção de espaço, visão de jogo e precisão no toque de primeira.
Evolução de Gabigol nas assistências:
- 2020: 8 em 12 jogos
- 2019: 12 em 59 jogos
- 2018 (Santos): 2 em 53 jogos
- 2017/2018 (Benfica): 0 em 5 jogos
- 2016/2017 (Inter): 0 em 10 jogos
- 2016 (Santos): 1 em 12 jogos
- 2015 (Santos): 10 em 56 jogos
- 2014 (Santos): 10 em 56 jogos
Gabriel, naturalmente, tem pontos com margem para crescimento. O número de gols poderia ser maior caso o atacante fosse mais eficiente nas finalizações. Tem estrela e aparece nos momentos decisivos, mas tem qualidade para ser ainda mais letal. Participativo e constantemente abastecido, desperdiça – já em menor escala – oportunidades claras.
O temperamento é a grande preocupação com o camisa 9. De personalidade forte, entra em rota de colisão com a arbitragem. Foi assim em 2019, com três expulsões e 23 cartões amarelos, alguns infantis. Na atual temporada, aparentemente mais controlado, foi advertido quatro vezes (um amarelo a cada três jogos). O pavio curto é monitorado de perto pelo Flamengo.
Entre taças, gols e pontos a evoluir, Gabigol segue o casamento dos sonhos com a torcida do Flamengo. Em busca da artilharia do Carioca (já foi goleador do Brasileiro e da Libertadores), o atacante prova jogo a jogo que tem a filosofia de Jorge Jesus correndo nas veias e dá passos cada vez maiores para se consolidar como referência na posição. (Igor Rodrigues/Globo Esporte)