A pandemia da Covid-19 provocou uma grande onda de choque que derrubou o mercado global, afetou todos os ativos e todas as cadeias produtivas. Ao mesmo tempo, esse mesmo choque tsunâmico está atuando como um acelerador de megatendências que vão nortear o mundo dos negócios, comportamentos das sociedades e das empresas nos próximos anos. Grandes bancos de investimentos e consultorias econômicas abastecem-se cada vez mais de pesquisas qualitativas para entender quais são essas “supertrends” (supertendências) mundiais, para orientarem seus milionários clientes onde alocar seus investimentos.

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Da leitura de calhamaços de gráficos,  relatórios de pesquisas e participação de várias videoconferências sobre o tema, ouso sintetizar nesta coluna as grandes tendências que devem influenciar o comportamento das pessoas, das empresas e dos negócios nas próximas décadas:  capitalismo inclusivo; população mais envelhecida; tecnologia a serviço das pessoas; novos valores da geração do milênio; sustentabilidade ambiental.

A área de tecnologia é um bom exemplo de valorização atual de determinado tipo de negócio. A pandemia nos fez perceber que a tecnologia nos ajuda a trabalhar de casa, gerenciar equipes, nos aproxima dos amigos, a vender produtos, a investir, a ter atendimento médico remoto, a pedir comida e produtos básicos, a fazer pagamentos e até mesmo a praticar exercícios físicos. Dificilmente as pessoas deixarão de usar a tecnologia com a mesma intensidade após a pandemia. Ao contrário, utilizarão cada vez mais serviços digitais em seu cotidiano. O uso intensivo de tecnologia no dia a dia das pessoas vai impulsionar uma economia circular de aplicativos de serviços como segurança cibernética e compartilhamento de dados. As administrações públicas e empresas terão de acelerar as melhorias de suas infraestruturas para oferecerem a maior parte dos seus serviços em plataformas digitais. Governo digital será uma exigência do cidadão-contribuinte e não mais uma inovação de algumas administrações.

Pesquisas confirmam que a sociedade brasileira envelhece em ritmo mais acelerado que nos decênios anteriores. Envelhece consumindo. Portanto, um específico tipo de consumidor que antes não aparecia nos radares comerciais, a chamada economia grisalha, e que agora exige produtos e tratamento apropriados.

A geração mais jovem (“millennials”) é mais sensível à questão de sustentabilidade ambiental, sustentabilidade social e boa governança corporativa. São novos valores que serão fortemente exigidos das empresas, sob o risco de serem discriminadas e até mesmo alijadas do mercado. Investir ou consumir produtos e serviços de empresas comprometidas com esses valores passou a ser padrão e não exceção como até pouco tempo atrás. Tais valores devem reger desde o consumo de alimentos, vestuário, moda, a serviços de aluguel, transportes, entretenimento. Essa nova geração apresenta também alta propensão ao consumo de serviços por meio de streaming e jogos on line.

A pandemia escancarou ainda mais a abissal desigualdade social em todos os países. Mostrou também que, independentemente da orientação política e econômica dos governos, todos tiveram que utilizar as clássicas ferramentas de política econômica e fiscal e ofertar gigantescos estímulos financeiros para socorrer as empresas, garantir empregos, dar proteção social aos mais vulneráveis, estabelecendo condições para a retomada da atividade econômica assim que resolvida ou mitigada a crise sanitária. Isso ficou evidente tanto em mercados emergentes, como nas economias mais desenvolvidas, conforme demonstram estudos do Banco Mundial e da OCDE, organismos de estudos e assessoramento econômico aos países mais ricos. O mundo constatou que o capitalismo tem o grande desafio de reciclar-se para se tornar mais inclusivo e sustentável, sob pena de as hordas empobrecidas e marginalizadas na corrida de acumulação e concentração de riquezas possam tornar-se justamente o grande exército que enfrentará o próprio sistema.

*VIVALDO LOPES DIAS é professor e economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em MBA e Gestão Financeira Empresarial pela FIA/USP.  

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