As bases que formaram o SUS (sistema Único de Saúde) se confundem com o processo de redemocratização do País. Surgiu da necessidade de uma população composta maciçamente de miseráveis e que era considerada indigente. Sim, quem não tinha a carteirinha do INAMPS , era tido como indigente e não poderia ser atendido na rede de saúde da época. Quem os atendiam eram as Santas Casas , lógico onde existiam esses hospitais.
Até chegar à Constituição de 88 e promulgar o artigo 196 onde se afirma que ” a saúde é um direito de todos e um dever do Estado” houve muito luta e uma compreensão clara de que era preciso diminuir as desigualdades sociais universalizando o acesso a saúde.
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Ao longo dessas três décadas da sua criação , foram perceptíveis os ataques as suas bases. Mas por ser uma política de Estado e não de Governo , o Sistema conseguiu se manter de pé até hoje , o que o tornou o principal guardião das vidas dos brasileiros. Temos o melhor programa de imunização do Mundo e a Estratégia de saúde da família está presente em todos os municípios do Brasil. Isso demonstra que onde o cidadão brasileiro põe o pé , os profissionais do SUS colocam a cara. É lógico que não temos um SUS perfeito pois faltam recursos para mante-lo. A saúde é cara e exige investimentos, principalmente em pessoas e equipamentos. Uma boa gestão otimiza muito os serviços de saúde , mas há necessidade de mais recursos pra que o SUS sobreviva bem. A título de comparação , os serviços privados que dão cobertura a apenas 20% dos brasileiros investem 2,5 vezes mais nos seus serviços que o SUS , este responsável por cuidar diretamente de 80% da população.
Apesar das limitações e baixos investimentos, é esse Sistema que faz o Brasil conseguir lutar contra essa pandemia e através dos seus serviços salva milhares de vidas diariamente nos quarto cantos do País. Temos a obrigação de olhar com mais cuidado e respeito a um Sistema que deixou de ser o esqueleto da saúde brasileira , mas tem hoje o estatus da alma e essência do seu povo. Nunca tivemos tanto orgulho dele e também pesar por ainda sofrer tantos ataques.
A autonomia dada a cada municipio pelo SUS é ao mesmo tempo sua força e fraqueza. Força porque é através do estudo do perfil epidemiológico de cada cidade e região que os gestores estabelecem ações em saúde para suas populações. Já a fraqueza se dá em razão do risco de maus gestores em usurpar e sangrar o SUS com a corrupção. Nesse quesito salta aos olhos o quanto em momentos de fragilidade da população, os corruptos tentam se aproveitar do SUS. Vejam os exemplos dos superfaturamentos em compras de EPIs e ventiladores mecânicos. A velha máxima ,criar dificuldades para vender facilidades, sobrepõe ao caráter humanisco que alicerça o próprio sistema. Essa fragilidade exemplifica claramente que a corrupção é o único câncer que tenta desfigurar o Sistema único de saúde.
Logo , se por um lado temos um SUS que sustenta e protege milhões de vidas em todo País , por outro é a tentação para os medíocres e desonestos gestores que utilizam de inúmeros artifícios para desviarem verbas e enriquecerem ilicitamente. Assim , a defesa do SUS começa com a dedicação dos seus profissionais em cada nível de atenção a saúde ,passa pela vigilância dos órgãos de controle ( MP, TCE , CGU, MPF E TCU) e termina com Judiciário garantindo os direitos definidos na constituição de 1988.Podemos ser categóricos em dizer que o SUS representa a garantia da vida e da democracia do povo brasileiro.

*WERLEY SILVA PERES é Médico de Família do SUS e pós-graduado em psiquiatria e foi secretário de Saúde de Cuiabá. 

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