O cenário em que estamos vivendo é extremamente preocupante. Devido ao efeito da pandemia do novo coronavírus, a economia mundial deverá sofrer uma retração na casa de 3%, o que significa ser dez vezes mais acentuada que a crise de 2008-2009. Provavelmente, uma depressão somente comparável com a crise de 1929, com uma perda cumulativa de 9 trilhões de dólares até o final deste ano.
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Para o Brasil, maior e mais importante país da América Latina, o quadro não é nada diferente. Estimativas do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional, por exemplo, sugerem uma queda de 5% do PIB, com desemprego chegando a 15% ainda este ano. A Organização Mundial do Comércio, por sua vez, prevê uma retração de até 32% do comércio internacional. Para efeitos de comparação, em 2009, essa retração foi de 12%.
Nesse diagnóstico, pesa ainda a fuga de capital de economias emergentes e em desenvolvimento, com saídas líquidas registradas na casa dos 100 bilhões de dólares entre março e abril.
Qual será a saída para esse cenário perturbador? Sem medo de errar, é a retomada dos investimentos em infraestrutura, setor que precisa ser tratada como prioridade. Sobretudo na área de transporte. Exemplo muito robusto que prova isso foi o ato de renovação antecipada do contrato da malha ferroviária paulista, assinado na quarta-feira, 27.
Esse ato, aliás, encerra uma luta de quase 5 anos, com muitas idas e vindas, e que exigiu inúmeras ações. Até chegar a esse ato, centenas de personagens, a começar pelo Movimento Pró-Ferrovia, FIEMT, Famato, Fecomércio, passando pela nossa Frente Parlamentar de Logística e Infraestrutura (Frenlogi), Governo do Estado, e a bancada federal, através do senador Jayme Campos e do coordenador, deputado Neri Geller, indo ao Tribunal de Contas da União, Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), até chegar ao Ministério dos Transportes.
Considerado emblemático para o setor de infraestrutura do país, a renovação viabiliza investimentos de R$ 6 bilhões já nos próximos cinco anos. Atualmente, essa ferrovia tem capacidade de transportar 30 milhões de toneladas ao ano e, com as melhorias previstas, deve atingir 75 milhões de toneladas até o fim do sexto ano, com os recursos prometidos nas melhorias.
O compromisso é de que, ao mesmo tempo que se vai solucionando os gargalos na malha paulista, a concessionária possa avançar também com os trilhos em Mato Grosso, que hoje se encontram em Rondonópolis, no sul do Estado, de forma a chegar a Cuiabá, capital do Estado, e depois seguindo para o Norte, avançando sobre as regiões de produção. Será a ferrovia entrando na roça para escoar a produção, passando ainda pelas zonas de processamento de carne bovina, aves e peixes.
No nosso caso, quem ganha será o agronegócio, que poderá se tornar mais competitivo com sua pauta de exportação. E não para por aí: os efeitos diretos chegam na indústria e ao comércio que, por sua vez, consequentemente, ofertará mais vaga para mão de obra, com novas oportunidades, e, ainda ao consumidor, com produtos acessíveis. É a tão desejada cadeia de progresso e desenvolvimento.
Ganha ainda o Estado brasileiro. Em um momento de crise, de baixa arrecadação, a União irá receber quase 3 bilhões em outorga. Além disso, entrou na renovação um acordo judicial de mais de 1 bilhão de reais no qual a concessionária se compromete a pagar passivos trabalhistas em discussão há quase duas décadas e que vão finalmente ser solucionados – ajudando a oxigenar a economia.
Como mostra a história em várias partes do mundo, é possível reverter esse quadro descrito como “quase caótico”. Todavia, o cenário futuro é desafiador o que exigirá de todos uma ação efetivamente pragmática. Para isso, com simplicidade e clareza, basta pegar o caminho que está sendo aberto.
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Wellington Fagundes é senador por Mato Grosso e presidente da Frente Parlamentar de Logística e Infraestrutura (Frenlogi)