A Argentina tem hoje uma taxa de mortalidade pela covid-19 de 10,4 óbitos por 1 milhão de habitantes. No Brasil, essa taxa é de 111,2 mortes por 1 milhão de habitantes.

A mortalidade no Brasil é 11 vezes, isso mesmo, 11 vezes maior que a observada na Argentina.

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O que explica essa diferença?
A Argentina não foi pautada pelo falso dilema entre saúde e economia. Ao contrário, as ações na economia têm sustentado a eficácia das medidas de saúde.
No plano sanitário, a Argentina se protegeu com isolamento social rigoroso, bem planejado nas esferas nacional e local, decretado precocemente.
No plano econômico e social, adotou medidas rápidas de proteção do seu povo para permitir que as pessoas cumprissem a quarentena mais longa até agora em todo o mundo e pudessem ficar seguras em casa.
O governo argentino coibiu demissões e protegeu os trabalhadores formais, inclusive complementando salários. Apoiou os trabalhadores informais ao instituir auxílio emergencial de 850 reais no mês de abril. Apoiou as empresas, assegurando subsídios, crédito e suspensão de impostos.
Protegeu a população mais vulnerável por meio da ampliação do cartão alimentação, programa similar ao bolsa família brasileiro.
Congelou alugueis, proibiu despejos, suspendeu cortes de serviços essenciais como água, luz, gás, telefonia e internet.
Protegeu a economia com investimento na produção de suprimentos de saúde e na reconversão de indústrias.
Criou um fundo especial para proteger os setores da cultura e do turismo.
Ampliou o orçamento destinado a obras públicas para injetar recursos na economia.
Por fim, debate no parlamento nacional o imposto emergencial sobre as grandes fortunas e iniciou uma moratória negociada da sua dívida pública.
E tudo isso só foi possível porque a Argentina tem liderança e governo nacional. Reuniu, em esforço coordenado, Estado e sociedade, setores público e privado, poderes públicos, governo e oposição.
Aqui no Brasil teríamos evitado 9 em cada 10 mortes causadas pela Covid-19 até hoje, se tivéssemos seguido por aqui o modelo argentino e alcançássemos as taxas de mortalidade de lá.
Teríamos preservado 22.317 vidas das 24.512 vítimas fatais da pandemia em nosso país até o dia 26/05. Mais que um número, são pessoas que estariam vivas, protegidas e entre os seus.
Não é apenas o vírus que mata. Desgoverno também.

*LÚDIO FRANK MENDES CABRAL   é   médico sanitarista e deputado estadual pelo PT

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