Depois de não cumprir a ordem de pagamento em € 850 mil ao Al Wahda, emitida pela Fifa, o Cruzeiro começará a Série B 2020 com menos seis pontos na tabela. A punição liga o sinal de alerta para alguns clubes do futebol brasileiro, principalmente aos que têm dívidas internacionais em aberto na entidade. Porque em meio à crise política e sanitária envolvendo a Covid-19 no país, a corrida contra o tempo enfrenta mais um obstáculo: a alta de moedas estrangeiras.

É o caso do Sport que, em dois meses, viu o débito referente à compra de André, junto ao Sporting, de Portugal, saltar cerca de 24%. E sem dinheiro em caixa, desdobra-se nos bastidores para pagar dentro do prazo e evitar o bloqueio na janela de transferências como punição.

Antes de tudo, é preciso entender que os valores das taxas de conversão para moedas internacionais sofrem alterações constantes de acordo com a oferta e demanda de mercado. O cálculo envolve diferentes fatores, como, por exemplo, número de importações e gastos de turistas no país. Em momentos de crise, quando a economia sofre problemas a nível mundial, a tendência é de que investidores apostem na moeda americana e europeia, porque têm mais estabilidade que as demais. Com isso, elas sofrem valorização.

O Real caminha no sentido contrário. Nesta semana, o jornal Financial Times ouviu especialistas e alertou que a moeda brasileira tem o pior desempenho a nível mundial em 2020, podendo cair ainda mais. É um reflexo do impacto econômico impulsionado pela crise da Covid-19.

André deixou o Sport no início de 2018, vendido ao Grêmio — Foto: Marlon Costa (Pernambuco Press)

André deixou o Sport no início de 2018, vendido ao Grêmio — Foto: Marlon Costa (Pernambuco Press)

O débito na Fifa têm impacto significativo nos cofres do clube, uma vez que, em 2020, o Rubro-negro lida com uma dívida a curto prazo de R$ 145 milhões. Ou seja, precisando ser paga dentro de 12 meses. Na Série A do Brasileiro, no entanto, o Leão não está só. Porque clubes como Fluminense, Santos e Palmeiras também acumulam pendências de caráter internacional na entidade. E mesmo em meio à pandemia causada pelo novo coronavírus, a Fifa está levando as cobranças adiante.

O jornalista especializado em negócios do esporte, Rodrigo Capelo, explica que Sport, Fluminense e Cruzeiro vivem situações semelhantes, porque vinham acumulando dívidas em realidades financeiras muito fragilizadas. E entram numa sinuca de bico, uma vez que não têm fonte de receita alternativa para usar.

O Palmeiras, cobrado na Fifa em US$ 3 milhões (agora cerca de R$ 18,7 milhões) referente à compra do atacante Borja junto ao Atlético Nacional, da Colômbia, é um caso à parte. No balanço financeiro de 2019, o clube aponta a variação cambial como um risco, por comprar e vender atletas internacionalmente, e diz não possuir mecanismos para cobrir possíveis perdas. De acordo com Capelo, portanto, pode-se dizer que haverá um impacto forte nas contas do clube, mas ele está menos vulnerável que os demais.

 — Foto: Reprodução

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No Sport, sem dinheiro em caixa e com quedas de receita, a diretoria trabalha nos bastidores para solucionar a questão por meio de pessoas consideradas influentes. É o que diz o presidente do Leão, Milton Bivar.

“Abrimos o link, é com pessoas certas para tratar e ajudar no assunto. Essas pessoas estão trabalhando e tenho certeza que vamos chegar a bons termos. O link é um negócio interno do clube. Não pedimos ajuda para torcedor. Pedimos ajuda a pessoas influentes, que podem ajudar a gente nesse momento. Pessoas que tenham contato com Portugal. Está sendo negociado diretamente com o Sporting Lisboa. Estamos aguardando aí, o negócio está indo.”

Vale lembrar que as tentativas de parcelamento da dívida e concessão de direitos dos pratas da casa Adryelson e Juninho, antes oferecidas pelo Sport, foram negadas pelo clube português. André foi comprado ainda em janeiro de 2017, na gestão de Arnaldo Barros, quando o Leão adquiriu 50% dos direitos do atleta, mas não pagou. O atacante deixou o Recife em 2018, vendido ao Grêmio por € 2,5 milhões (cerca de R$ 10 milhões à época). (Globo Esporte)