A descoberta da América pelos espanhóis foi saudada como a chegada de deuses esperados com ansiedade pelos indígenas. Entretanto, descobriu-se, logo em seguida, que não se tratava de disso, mas de uma guerra de conquista cruel e impiedosa.

Hernan Cortez, o colonizador do México, tramou e aprisionou Montezuma, arrasou com a civilização asteca. Francisco Pizarro, um analfabeto, recebido da mesma forma no Peru, cortou as mãos no imperador dos incas, com a reação tardia dos indígenas, os tornou parte da colonização espanhola.

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O certo é que o misticismo indígenas está sempre esperando por algum deus ou um ser excepcional que irá mostrar o caminho da luz.

A própria geografia da América, de grandes, extensas e isoladas comunidades, aliada ao misticismo atávico, favorece o surgimento de líderes messiânicos, donos soluções mágicas para redimir o seu povo.

A América é o berço de Simon Bolívar, Antônio G. Blanco, Porfírio Dias, Pancho Villa, Papa Doc, Peron, Fidel, Chaves e tantos outros salvadores da pátria. Aqui, no Brasil, esta influência somente não foi maior por que tornou-se sede da Coroa Portuguesa e implantou aqui uma monarquia estável e consolidou o País.

Entretanto, nem por isto ficamos livres dos caudilhos. A história recente mostra que um homem com uma vassoura iria varrer a roubalheira, mas não suportou a força das circunstâncias, renunciando e levando o País a uma crise sem precedente que levou ao Golpe de 64.

Um outro caçador de marajás não os encontrou e, para evitar o impeachment, renunciou ao cargo deixando país atolado numa severa crise.

E aí apareceu o homem que acabou com a pobreza, detinha a chave de todas as soluções e terminou por abrir a fechadura da cadeia, onde passou alguns longos meses.

E este é o maior dos responsáveis pela cruel radicalização – do nós contra eles, dos desmandos, da corrupção, dos fisiologistas, das promessas não cumpridas e de sua inexperiente sucessora, entronizada no poder para pavimentar o seu caminho de volta.

Resultado: elegeu-se outro radical situado à direita do cenário político. E este, um político falastrão do baixo clero, briguento que tropeça nas próprias pernas, contrariando o que prometeu, se alia ao que há de pior na política brasileira: a turma do toma lá dá cá. Para ficar onde estava não precisava mudar!

Enfim, a história se repete em forma de farsa e humor negro, com uma sensação de impotência e de fracasso daqueles que foram enganados novamente.

Este quadro lastimável, não impedirá que procuremos, nas próximas eleições, outro genérico salvador da pátria, pois a nossa formação e o misticismo atávico nos conduzem a falsos líderes que nos levam sistematicamente ao cadafalso. O preço que pagamos e pagaremos por tudo isto é alto.

P.S. O caudilhismo é um fenômeno cultural que primeiro surgiu durante o início do século XIX na América do Sul revolucionária, como uma forma de líder de milícia com personalidade carismática e um programa suficientemente populista de reformas genéricas a fim de auferir larga adesão, ao menos no início, das pessoas comuns. O caudilhismo eficaz sustenta-se em culto à personalidade. (Wikipédia).

*RENATO GOMES NERY  é advogado em Cuiabá. Foi presidente da Seccional de Mato Grosso da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MT) e membro do Conselho Federal da OAB.

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