“Antes a vida e depois o futebol”. Essa foi a última frase do manifesto do zagueiro brasileiro Gabriel Paulista, do Valencia, contrário à volta dos treinos e jogos na Espanha (veja ao final da reportagem). O país é o segundo no mundo em número de casos confirmados de coronavírus, com mais de 221 mil, e o quarto em mortes com mais de 26 mil. As declarações dele repercutiram no futebol europeu – não sem motivo.
– Queria passar esse tipo de mensagem. Nessa quarentena, a gente pensa muito. Estava no jardim de casa e decidi começar a escrever. Saiu tudo aquilo. Lógico que tenho medo. Tenho minha família. Vou sair para trabalhar, jogar, e se eu pego esse vírus, volto e contamino a minha família, a minha esposa, o meu filho? Nunca mais vou viver – comentou Gabriel Paulista em entrevista ao GloboEsporte.com, por telefone, nesta quinta-feira, em mais um dia de isolamento na Espanha.
“Foi uma indireta para as ligas, federações, as pessoas que estão acima, para pensarem primeiro no ser humano e na saúde das pessoas. A gente pode perder dinheiro, o que for, mas doente não tem como recuperar. Acho que se deveria pensar um pouco nisso”
Mas o elenco do Valencia ainda convive com o fantasma da Covid-19. O departamento de futebol do clube foi um dos mais castigados em toda a Europa, com 15 jogadores e 10 membros da comissão técnica infectados. O grupo ficou extremamente exposto por jogar entre o fim de fevereiro e o início de março nas cidades de Milão, na Itália, e Vitoria, na Espanha, dois grandes focos da pandemia na época.
O zagueiro Eliaquim Mangala apresentou sintomas como febre, diarréia e dificuldade para respirar. Todo o elenco foi posto em duas semanas de quarentena. No dia 1 de abril, todos os atletas e outros profissionais foram considerados recuperados.
Elenco do Valencia teve 15 jogadores com teste positivo para Covid-19 — Foto: Getty Images
Essa experiência com o time, a disseminação do coronavírus na Europa, a incerteza sobre as garantias sanitárias apresentadas pelo governo e pela liga, além da natural preocupação com as pessoas mais próximas, levaram Gabriel Paulista a escrever o manifesto.
Sem a garantia absoluta de que os jogadores não serão contaminados – e consequentemente outros profissionais do futebol e seus familiares – ele sugere que a Espanha avalie a possibilidade de seguir o caminho trilhado pela França e Holanda, que encerraram os campeonatos nacionais antes do previsto. Mesmo com o Valencia com 42 pontos em La Liga, um a menos que a Real Sociedad, o primeiro time na zona de classificação para as competições europeias.
“Fui contra o meu clube – porque lógico que o Valencia quer voltar a jogar, depende disso. Se o campeonato acaba agora, o Valencia está fora de tudo, da Champions, da Liga Europa. Estou contra todo mundo. Mas é a minha opinião”
Gabriel Paulista está no Valencia desde 2017, é um dos líderes do elenco e compõe a espinha dorsal do time (em 33 jogos nesta temporada, foi titular em 32). Ele ficou fora da última partida do time antes da paralisação por causa da pandemia, a derrota para a Atalanta na Liga dos Campeões, devido a uma entorse de tornozelo.
Abaixo, a publicação do Gabriel Paulista sobre a questão da volta aos treinos na Espanha: