Obras que chegaram a ter três turnos, revezando-se por 24 horas, estão paradas. O silêncio nos canteiros das construções no Catar tem nome: covid-19. A determinação do Governo local veio depois que operários dos estádios da Copa do Mundo 2022 testaram positivo para o novo coronavírus.
Vários trabalhadores apresentaram sintomas da doença, sendo que oito foram confirmados com covid-19 após exames. Eles trabalham na construção dos estádios Al Thoumama, Al Rayyan e Al Bayat, três dos sete novos que estão sendo erguidos para a Copa do Mundo (assista ao vídeo abaixo, do fim de fevereiro, com o progresso das obras).
O mundial terá oito estádios e vai acontecer entre novembro e dezembro de 2022. De acordo com o Comitê Organizador da Copa, os operários infectados têm acompanhamento médico gratuito e continuam recebendo salários. Fifa e responsáveis pelo torneio do Catar não quiseram avaliar possíveis atrasos por causa da interrupção das obras.
SEDES DA COPA DO MUNDO 2022
ESTÁDIO | SITUAÇÃO |
Khalifa Stadium | Pronto e usado |
Al Januob Stadium | Pronto e usado |
Rayyan | Concluído com inauguração adiada |
Education City | Concluído com inauguração adiada |
Al Bayt | Concluído com inauguração adiada |
Ras Abu Abud | Feito de contêineres, conclusão prevista para menos de um ano |
Al Thamama | 70% pronto |
Lusail | 50% pronto |
Há uma preocupação com o número de contaminações entre os trabalhadores que também atuam nas obras de infra-estrutura do país, também suspensas. A maioria é de origem asiática e vive em regiões periféricas de Doha, como a Asian Town, bairro onde moram aproximadamente 50 mil imigrantes.
Operários no estádio Al Bayt, em Doha, na fase final de obras para a Copa do Mundo de 2022, em dezembro passado — Foto: GIUSEPPE CACACE / AFP
Paraguaio piloto de avião entre as vítimas
Sete das 10 pessoas que morreram até agora de covid-19 no Catar são imigrantes. Segundo o Ministério da Saúde do país, as vítimas são da Índia e Bangladesh, na Ásia, de Uganda, na África, e um sul-americano, o paraguaio Wilhelm Harder, de 56 anos, piloto de avião que trabalhava na Qatar Airways.
– A maioria dos novos casos registrados hoje é de trabalhadores migrantes, a maioria dos quais foi sujeita a precaução de quarentena depois que se descobriu que estavam em contato com casos confirmados – informa um comunicado divulgado pelo Ministério da Saúde do Catar.
Wilhelm Harder, piloto paraguaio da Qatar Airways, morto pela covid-19, torcedor do Sportivo Luqueño, de seu país — Foto: Reprodução de Instagram
O Catar iniciou uma quarentena parcial ainda no fim de fevereiro, com suspensão de aulas em escolas, universidades e o fechamento de lojas. O governo intensificou o isolamento em março, quando eventos públicos foram cancelados, inclusive no esporte.
Liga de futebol suspensa
A liga nacional de futebol, a Qatar Stars League, foi interrompida no dia 7 de março, a cinco rodadas do fim. O Al Duhail lidera o campeonato. O atual campeão, o Al Saad, comandado pelo ex-jogador do Barcelona e da seleção espanhola Xavi está na terceira posição.
Xavi entrou em acordo com o clube e concordou em reduzir parte do salário durante a pandemia. Pelas redes sociais, tem incentivado as pessoas a ficarem em casa, além de participar de campanhas sociais, como a que arrecada doações para o Hospital Clínico de Barcelona, um dos locais de referência para o tratamento contra o covid-19 na Catalunha.
O país possui 2,6 milhões de habitantes, e o Ministério da Saúde tem realizado, em média, 4 mil testes diariamente. Até agora, 70.012 pessoas foram testadas no país. A família da brasileira Raquel Pfister, que mora há 4 anos em Doha, ainda não, mas explica o esquema.
– Eles estão fazendo testes gratuitos em quem apresenta algum sintoma ou em parentes que tiveram contato com essa pessoa. Não é o meu caso, nem do meu marido e dos meus dois filhos. Estamos bem e respeitando a quarentena. Também só saímos de casa com máscaras – disse em entrevista por telefone.
Raquel Pfister com a família de máscara em elevador no Catar durante a pandemia de covid-19 — Foto: Arquivo pessoal
O uso de máscaras é obrigatório para os funcionários dos locais que podem funcionar durante o isolamento: hospitais, farmácias e mercados. A partir da próxima sexta-feira, a maior rede de supermercados do país só vai permitir que clientes protegidos assim entrem nas lojas. O uso também é incentivado pelo Ministério da Saúde.
Mesquitas fechadas, presos liberados
Um dos períodos do ano mais aguardados pelos muçulmanos, o Ramadã, também será diretamente afetado pela pandemia no Catar. Ao anoitecer desta quinta-feira, 23 de abril, começa o mês sagrado do islamismo, que este ano vai até 23 de maio. Pela tradição, os muçulmanos realizam o jejum total do nascer ao pôr do sol, além de longos períodos de oração.
Membros da Orquestra Filarmônica do Catar se apresentam em bancada para entreter moradores de Doha durante a pandemia do novo coronavírus — Foto: AFP
No entanto, no Catar, as mesquitas estão fechadas e, de acordo com o governo, não serão reabertas durante o Ramadã. As cerimônias religiosas públicas estão suspensas, como a festa do desjejum, o Eid Al-Fitr, quando os muçulmanos têm a tradição de enfeitar suas casas e servir refeições para amigos e parentes.
Policiais e voluntários estão pelas ruas pedindo que as pessoas usem luvas e máscaras e reforçando que os eventos religiosos estão proibidos.
Nesta quarta-feira, 22, o Emir do Catar anunciou o perdão a vários prisioneiros condenados por crimes leves e determinou a soltura deles por condições sanitárias e humanitárias nas prisões.
(Globo Esporte)