O reflexo da pandemia do novo coronavírus no futebol e na sociedade de modo geral preocupam Fernando Prass. Em entrevista ao GloboEsporte.com, o ex-goleiro do Palmeiras, atualmente no Ceará, falou sobre o problema que o mundo todo tem enfrentado.
Por enquanto, depois de inicialmente monitorarem trabalhos físicos dos jogadores a distância, os clubes brasileiros deram férias até 20 de abril a seus elencos. Período que poderá ser prorrogado por mais dez dias.
– O planejamento fica difícil porque não se sabe se pode dar uma carga de treino e voltar dia 20 ou se dá uma carga alta e no dia 20 dão mais dez dias de férias. Essa incerteza também mexe contigo, de não poder sair de casa, estar trancado. São coisas que infelizmente a gente tem de passar. Eu sou muito dessa opinião – afirmou.
– Vamos ter um sacrifício de todas as partes para tentar conter (a pandemia). Temos exemplos no mundo de que não é brincadeira. Posso até causar polêmica, mas não é um simples resfriadinho que falam, né? Um resfriado não mata 15 mil pessoas em 40 dias na Itália. Um resfriadinho não faz com que países como Itália, Espanha e Estados Unidos parem. Tenho amigos nos três, da Itália me mandam filmagem das ruas, e não tem ninguém. É toque de recolher mesmo.
Resguardado em casa com a família em Fortaleza, Prass tomou conhecimento de dez casos de amigos que ficaram doentes no período. Dois foram diagnosticados com a Covid-19.
– O Ceará é o terceiro estado com mais casos, em números absolutos. Se for ver proporcionalmente em relação ao número da população, fica mais feio ainda. A gente está no escuro ainda, não tem quantidade de testes razoáveis. Aqui no Brasil não se sabe o real número de contaminados porque não se testa. Eu tenho dez amigos contaminados e dois fizeram testes porque tiveram sintomas muito graves e tiveram de ir para hospital – disse.
A diretoria do Ceará entrou em acordo com o elenco sobre uma redução inicial dos salários por dois meses. Uma parte do valor economizado será diluído nos vencimentos até o fim do ano. Outra parte foi um compromisso dos jogadores para que nenhum funcionário do clube seja demitido durante a crise.
– Acho que nenhum jogador é alienado e ignorante a ponto de não entender o que está acontecendo no mundo. Eu tenho muitos amigos empreendedores, meu pai é microempresário, a dificuldade é muita. Está se prevendo quase que o dobro de desempregados no fim dessa crise, e o número já é alto. É uma situação complicada – pontuou.
Futuro indefinido
Sobre o cenário de uma possível diminuição dos salários nos demais meses, o jogador de 41 anos espera para avaliar novas medidas.
– É difícil analisar a proposta que a associação de clubes nos fez. Com cinco dias de parada, eles já fizeram uma proposta de redução de 25% dos salários, de A a Z, de Flamengo a Guarani de Sobral, que é um time do interior daqui. Eu não consigo achar sensato porque, primeiro, não tem como em cinco dias fazer uma previsão de queda no faturamento. Ninguém sabe que dia vai voltar, qual vai ser a fórmula do campeonato, qual vai voltar e qual não vai voltar, como a televisão vai lidar com o repasse das contas. Como joga um número de 25% do time que foi campeão brasileiro ao time que está na Série D? É muito precipitado – pondera.
– Outra coisa é cada clube discutir a sua situação. Eu sempre uso a metáfora do remédio. Você vai pegar vários pacientes e vai dar o mesmo remédio e a mesma dosagem para todos? Tem uns que vão se curar, uns não vai adiantar nada porque a dosagem é pequena e outros que vai causar mais problemas por causa de uma dosagem. O bom senso diz que deve negociar caso a caso quando tiver o maior entendimento do cenário. (Globo Esporte)