José Dalai Rocha assumiu a presidência do Cruzeiro em meio à maior crise financeira, política e institucional da história do clube. Só chegou a presidente, por causa das renúncias de Wagner Pires de Sá, Hermínio Lemos e Ronaldo Granata, o presidente e sua linha sucessória. Acabou presidente do Conselho Deliberativo e, por isso, assumiu a missão de recuperar o bicampeão da Libertadores e quatro vezes campeão brasileiro.

Em recuperação, depois de ter sido diagnosticado com a Covid-19, há seis dias, José Dalai Rocha falou por telefone sobre a doença e sobre a crise do Cruzeiro. “Vamos voltar fortes”, ele garante.

PVC – Como está a situação que já era difícil e ainda teve notícias piores?

DALAI – Eu recebi essa visita indesejável do coronavírus, mas estou bem. Não tive nenhum sintoma mais grave. O que me chamou a atenção foi uma súbita inapetência. Eu não tinha vontade de comer nada. Como é uma doença nova, os sintomas são variáveis e é preciso prestar atenção a todos eles. Não aguentava nem olhar a comida. Estou confinado, mas bem. Oitavo dia de confinamento, mas felizmente não tive febre, que poderia ser um sinal de que a doença teria chegado ao pulmão. Não chegou. Meu apartamento não é pequeno, felizmente, e posso ficar na minha suíte, sem ninguém entrar aqui, para não correr nenhum risco.

PVC – E o Cruzeiro? Como está o processo de recuperação?

DALAI – Nós queríamos fazer em março a grande reforma estatutária, que colocaria barreiras claras, para não permitir que nenhum novo dirigente pusesse repetir o que se fez nos últimos anos. Vamos fazer essa reforma, mas infelizmente o final de março chegou com essa limitação pelo coronavírus. Agora, nossa ideia é fazer a reforma e manter a data das eleições para 21 de maio.

PVC – Vai ser possível manter?

DALAI – Acreditamos que pode ser possível. Tínhamos uma chapa definida e outra que, neste momento, deixou de figurar.

PVC – O Emílio Brandi?

DALAI – Sim. Depois de muitas conversas, ele aceitou participar da eleição, porque julgou que poderia ser candidato único, levando em conta o trabalho de recuperação que o conselho gestor fez nos últimos cem dias. Foi planada a estrada e julgamos que seria unânime a sua escolha. Mas há pessoas que pensam diferente. Hoje, temos a candidatura do Sérgio Rodrigues, apoiado pelo Pedro Lourenço. Mas o Pedro é um grande cruzeirense e não tem nada contra o Brandi. Confiamos que o processo vai ser democrático e será o melhor para o clube.

PVC – O senhor acha que o Cruzeiro correu risco de extinção?

DALAI – Não. Isto é um exagero. O Cruzeiro é grande demais. Melhor clube brasileiro do século 20. Quando falamos com dirigentes da Conmebol, da Fifa, percebemos a frustração. E a nossa frustração é perceber que nossa estrelinha hoje está marcada como um caso emblemático de corrupção no mundo do futebol. Mas estamos retomando. Já estamos retornando para o Profut e confio que vamos sair desta situação muito mais fortes.

PVC – O senhor entende que será preciso cortar salários durante a crise do coronavírus?

DALAI – Sim. Já estamos nos preparando para isso. Temos também o exemplo do nosso rival, o Atlético, que já fez este corte. Estamos em negociação, mas vamos conseguir cortar e voltar a pagar. O Cruzeiro vai voltar a ser muito forte, como é sua história. (PVC/Globo Esporte)