Passou-se menos de um ano desde que Magrão, ídolo incontestável no Sport, esteve em campo pela última vez, quando reserva do Rubro-negro no dia 11 de junho de 2019. Desde então, o ex-camisa 1 pouco falou. Assumiu a postura discreta que carregou consigo ao longo da carreira. Quando, enfim, apareceu, o agora ex-goleiro conta que vive o início da aposentadoria tenso. Ele está em meio ao epicentro da pandemia do novo Coronavírus, morando na cidade de Varese, na Itália, ao lado da esposa, Marilu, que há pouco se recuperou de um câncer de mama, em 2015.
“Tínhamos um sonho de vir para a Itália assim que terminasse a carreira de jogador de futebol. E foi o que aconteceu. Quando acabou, viemos para cá, um país que conhecíamos por ter visitado, e estamos aqui no meio desse colapso. É algo que nunca tínhamos vivido, deixa a gente com medo. Quando vou no supermercado, é uma aflição muito grande. Tem que usar máscara, luva, manter distância, voltar logo para casa.”
Magrão e a esposa Marilu, na Itália — Foto: Divulgação / Arquivo pessoal
Ao lado da esposa, Magrão está a 40 minutos de distância de Milão, cidade na qual o prefeito, Giuseppe Sala, admitiu ter errado ao apoiar a campanha “Milão não para”, contra o isolamento preventivo defendido pela OMS. A cidade tem 8.676 casos confirmados, superando Bérgamo, com 8.664. A Defesa Civil não divulga o número de mortos por província, mas a Lombardia inteira registra 6.818 óbitos, 58,8% do total da Itália (11.591).
O casal desembarcou na Itália em fevereiro, justamente quando os primeiros relatos da Covid-19 começaram a aparecer no país europeu.
– As pessoas não levaram a sério. Tudo funcionando, a gente indo nas cafeterias, tudo cheio. E como aqui têm muitos idosos, foi aumentando os casos e a gente não dando conta que seria uma coisa séria.
“Só demos conta na segunda, terceira semana que tudo começou. Acredito que o fato de os italianos não terem acreditado nisso no início, acarretou nessa explosão e tantas pessoas terem perdido suas vidas.”
Magrão chegou na Itália em fevereiro deste ano — Foto: Divulgação / Arquivo pessoal
Magrão conta que é preciso ter uma justificativa para sair de casa. Os supermercados e as farmácias são os únicos lugares permitidos. Nas ruas, a polícia utiliza alto-falantes para lembrar a necessidade do distanciamento de um metro entre as pessoas.
“Se a gente esquece, aproxima de alguma pessoa, vem alguém para falar para distanciar, ficar um metro longe. Não podem andar duas pessoas no carro, os policiais podem multar.”
O plano inicial era de que os filhos do casal, Lucas e Rafael, desembarcassem na Europa na semana seguinte à chegada de Magrão e Marilu. Mas com a pandemia, tudo mudou. Eles ficaram na cidade de Carapicuíba, em São Paulo, com os pais do camisa 1. A filha, Gabriela, por sua vez, está em Lisboa.
“Todo dia a gente liga para eles para falar para não sair de casa, para tomar cuidado. A gente espera que nossos filhos não passem por isso, porque o Brasil não passou pelo que a Itália passou e a gente espera que vocês aí não passem por isso. Claro que a preocupação existe, mas tem de ter tranquilidade. Meu pai está subindo pelas paredes, porque eles gostam de bater perna, meus filhos estão segurando eles lá.”
Magrão deixou o Sport em junho do ano passado — Foto: Marlon Costa / Pernambuco Press
De quarentena no epicentro da pandemia, Magrão e Marilu encontram apoio um no outro. A esposa conta que o ex-goleiro tem sido determinante para ajudar a protegê-la, já que ela faz parte de um grupo de risco. Isso porque, ainda em 2014, Marilu se recuperou de um câncer de mama. No dia 2 de abril daquele ano, ao mesmo tempo em que dava entrada na sala de cirurgia do Hospital Esperança, Magrão subia ao campo para conquistar o título da Copa do Nordeste, diante do Ceará.
Após quase dois meses na Itália, o ex-goleiro conta que o momento faz pensar. Principalmente, sobre apoio. Sobre aqueles com quem você pode contar. Agora longe dos gramados, o ídolo rubro-negro pede tranquilidade e respeito para atravessar o cenário de pandemia.
– Traz a reflexão do que é realmente uma família, porque mesmo distante a gente pode cuidar um do outro. Porque, às vezes, a gente pode está perto, mas está longe. O momento é difícil, mas, acima de tudo, o povo brasileiro tem que ter tranquilidade, respeito ao próximo em saber que você não é o único a precisar de um medicamento, de alimento no supermercado. Aqui, as pessoas respeitam bastante ao próximo. É entender que é algo que vai passar e fazer o que é para ser feito.
Magrão e Marilu na Itália — Foto: Divulgação / Arquivo pessoal
(Globo Esporte)