O artigo desta semana fluiu em pleno cenário de guerra contra a pandemia do novo coronavírus. Foi da varanda do meu apartamento, em Brasília, observando a paisagem imperturbável do cerrado do Planalto Central, salpicada de árvores e plantas que abrigam milhares de pássaros, que fui guiado por Deus a refletir sobre este momento deplorável da nossa história, em pleno século XXI.
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Logo percebi, olhando para o verde infinito, que apesar da graciosidade do assobio e balé dos passarinhos, havia um imenso vazio no horizonte. Devido à quarentena, a belíssima área verde do Sudoeste estava órfã daquilo que é mais precioso, o ser humano. Pela primeira vez na história, corredores, ciclistas, crianças e famílias não circulavam ao ar livre.
Faço aqui, uma reflexão, diante das notícias veiculadas na mídia, nesse período de isolamento obrigatório. De todas as notícias que li, assisti e ouvi, uma em especial me chamou a atenção: a palestra ministrada pelo bilionário Bill Gates, em 2015, nos Estados Unidos.
Ele afirmou categoricamente que o mundo não estava preparado para uma próxima epidemia, o que de fato aconteceu cinco anos depois.
“Se algo matar mais de 10 milhões de pessoas nas próximas décadas, é mais provável que seja um vírus altamente contagioso do que uma guerra. Não mísseis, mas microorganismos”.
Segundo Gates, os países investiram muito em estratégias anti-nucleares, mas muito pouco em um sistema que detenha uma epidemia.
No caso do Ebola, ele enumerou três razões de o vírus não ter se espalhado mais do que três países africanos: a primeira, o trabalho heróico de profissionais da saúde, que evitaram novos contágios; a segunda, é a natureza do vírus, não transmissível pelo ar e, onde a maioria dos pacientes fica tão doente que fica acamada; e a terceira, é que o Ebola não entrou em muitas áreas urbanas, e isso foi simplesmente por sorte.
Com a sua visão de um mundo vulnerável, Bill Gates alertou “pode haver um vírus que deixe o paciente aparentemente bem no estágio contagioso, a ponto de ele conseguir viajar de avião ou ir ao mercado. A fonte do vírus poderia ser uma epidemia natural, como o Ebola, ou poderia ser bioterrorismo”.
Na sua brilhante palestra, ele criticou a lentidão para levar os milhares de profissionais aos países atingidos. Não havia abordagem de tratamento, avaliação do processo de diagnóstico, muito menos, houve, coleta de sangue dos sobreviventes para processar esse sangue usando o plasma para imunizar outras pessoas. E para completar, a OMS é financiada para monitorar epidemias, não para fazer pesquisas.
Bill Gates chamou a atenção para o uso essencial da ciência e tecnologia, dos telefones celulares para coletar as informações das pessoas e divulgar informações para elas, o avanço da biologia, que mudariam drasticamente o tempo de resposta para analisarmos um patógeno e sermos capazes de criar vacinas e medicamentos compatíveis com ele, enfim, podemos ter ferramentas, mas elas precisam ser colocadas num sistema geral de saúde global, e precisamos de preparação.
Antevendo o futuro, Bill Gates defendeu a necessidade urgente, de dotarmos de sistemas de saúde fortes em países pobres, onde mães possam dar a luz em segurança e crianças tenham acesso a todas as vacinas. Isso, aliado de um corpo médico a postos com muitas pessoas, com treinamento e experiência necessários que estejam prontos para agir, com expertise.
E por fim, juntar esses profissionais de saúde aos militares, lançando mão da capacidade militar de se mover rápido, de fazer logística e de tornar áreas seguras.
Um sistema como esse é imperativo e urgente. Mas para que isso se faça, precisamos primeiro compreender que o investimento em ciência e tecnologia e a manutenção de sistema universal de saúde de qualidade não são gastos que podem ser cortados ou economizados.
Ou compreendemos a importância desses investimentos constantes, ou perecemos por algo que não conseguimos nem ver em microscópios comuns.
*VICENTE VUOLO é economista, cientista político e coordenador do Movimento Pró VLT Cuiabá-Várzea Grande.
CONTATO: www.facebook.com/vicente.vuolo
E-MAIL: VVUOLO@senado.leg.br
Olhando para o verde infinito, que apesar da graciosidade do assobio e balé dos passarinhos, havia um imenso vazio no horizonte