Durante anos acompanhamos a casa mais vigiada do Brasil. O BBB geralmente começa com um monte de gente legal, fazendo coisas legais e num clima de paz e amor que parece que irá ganhar a eternidade. Mas bastam alguns dias de confinamento para que as máscaras comecem a cair. Pequenas coisas se transformam em grandes conflitos. Carências vem à tona e transformam mocinhos em bandidos.

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A gente assiste a tudo em meio a nossa correria do dia a dia. No final é aquele que consegue manter a linha que acaba levando o prêmio. Se a máscara foi mantida até o fim jamais saberemos, o certo é que aqueles que julgam, votam na congruência, no equilíbrio entre o que se fala e se faz.

Agora somos nós os confinados, somos nós os responsáveis por manter a congruência. Não existem câmeras, não tem paredão e os demais sequer saberão o que se passa em cada espaço.

Casas e apartamentos que as vezes não estavam preparados para receber todos os membros da família. Pessoas que entre o ir e vir passavam até 12 horas fora de casa, hoje passam este tempo juntas.

E agora?

Num primeiro momento o silêncio. Depois vieram os pequenos reparos. Finalmente sem mais nem menos começam os primeiros conflitos. Briguinhas por causa de um celular que caiu, a lata do açúcar que ficou aberta em cima da mesa, a demora no banho e o gasto da energia. O consumismo ainda nos consome, mesmo com a doença eminente e a morte presente batendo na soleira de nossas portas.

Será que tudo isso que está acontecendo irá nos ensinar alguma coisa? Até quando o celular será mais importante que o filho? Até quando o ter irá sobrepujar o ser?

Precisamos mudar e entender que este confinamento, assim como o BBB, também irá nos premiar. Sem recebermos um voto sequer podemos sair do outro lado mais humanos, empáticos e amorosos. Se isto não acontecer não terá valido a pena. Se gritos ainda ecoarem por conta das coisas, teremos perdido a grande oportunidade de realmente nos tornarmos o grande irmão.

Muito confinamento ainda teremos pela frente e se tudo der certo aqueles que hoje endeusam as coisas, vão se transformar nos cuidadores das pessoas e dos seus.

Neste momento são as crianças que mais sofrem, são tolhidas da sua inocência e penam nas mãos de pais que estavam tão ocupados que esqueceram o que é educar com amor. Estão orbitando entre gritos e muitos nãos. Não faça isso, não pegue aquilo, não, não, não. O que posso fazer em relação a isso? Como posso colaborar com um vizinho ou amigo que se encontra perdido sem saber como se comportar em pleno confinamento?

Precisamos começar um movimento de descoisificação das relações, ou seja, mostrar para aqueles que amamos que as coisas não estão em primeiro lugar, o ser humano mais do que nunca precisa ser nossa prioridade. Se conseguirmos isso, o covid-19 terá perdido, pode até levar muitos de nós, mas deixará uma raça mais forte, mais unida, mais humana.

Nossos próximos dias não serão fáceis, mas precisamos e vamos passar por tudo isso.

Que o não deixe espaço para o sim. Que os gritos sejam substituídos por cuidado e carinho. Que as pessoas se encontrem dentro do confinamento como sempre foram no ambiente de trabalho, cordiais e amigas. Chegou a hora de ter paciência com àqueles que verdadeiramente amamos, no mais tudo é ilusão.

*LUIZ FERNANDO FERNANDES   é jornalista em Cuiabá. 

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