Para evitar aglomerações e cumprir as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) diante da pandemia do coronavírus, o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) anunciou a suspensão das competições nacionais e encerrou as atividades no centro de treinamento na última segunda-feira. Neste contexto, os atletas tiveram que dar um jeito e adaptar da rotina de treinos: a sala de casa virou academia, a piscina das crianças virou raia e até um terreno baldio foi escolhido para treinos de arremesso de peso.

Receio de contágio do novo coronavírus afeta atletas paralímpicos do Brasil

– O Centro de Treinamento fechou devido ao coronavírus, mas não podemos ficar parados. A gente tem que estar preparado – disse Phelipe Rodrigues, nadador da classe S10.

Ao redor do mundo, foram cancelados 42 eventos-teste e torneio classificatórios paralímpicos. Mas a maior preocupação não é mais com índices ou vagas. Entre os atletas paralímpicos, a chance de complicações em caso de infecção por coronavírus é maior e bastante perigosa.

– As pessoas com deficiências apresentam o risco maior, em pesquisas científicas, os atletas paralímpicos tem o dobro de chances de ter doenças que atletas olímpicos, e dessas pelo menos 35% são respiratórias – afirmou Hesojy Gley, coordenador médico do CT Paralímpico Brasileiro.

Os atletas com a maior probabilidade de desenvolver os sintomas mais graves da doença são: pessoas que possuem lesão medular alta, como tetraplégicos, portadores de doenças neurológicas, doenças degenerativas e atletas que passaram por cirurgias neurológicas recentemente.

A nadador Susana Schnarndorf sofre de uma doença degenerativa que compromete os pulmões. Ela ainda não conseguiu competir este ano por causa da pandemia. No final de fevereiro, junto com a delegação brasileira, ela chegou a viajar para a Itália para disputar uma etapa do Circuito Mundial de Natação. Mas, com o aumento exponencial de casos confirmados da COVID-19 na região da Lombardia, os atletas voltaram para casa sem sequer cair na água.

– A gente chegou a ir a Itália, mas a competição foi cancelada. Eu sou sempre grupo de risco, é mais difícil para mim. Eu vou tomando cuidado, porque é uma doença que ninguém sabe ainda como evolui. Vamos treinando do jeito que a gente pode – contou Susana, nadadora da classe S4.

A velocista Verônica Hipólito também faz parte do grupo de risco. Ela compete no grupo dos paralisados cerebrais e recentemente passou por uma cirurgia para retirada de um tumor cerebral.

– Se eu pego esse vírus, meu corpo não tem como reagir – afirmou a velocista, que precisa repor hormônios essenciais.

Rugby em cadeira de rodas é praticado por atletas tetraplégicos — Foto: Saulo Cruz/EXEMPLUS/CPB

Rugby em cadeira de rodas é praticado por atletas tetraplégicos — Foto: Saulo Cruz/EXEMPLUS/CPB

No caso dos tetraplégicos, a atenção começa com as próprias cadeiras de rodas, que devem ser limpas constantemente para evitar a disseminação do vírus.

– Fazemos parte do grupo de risco, temos sequelas na parte respiratórias e podemos ter sérios problemas. Não estou mais treinando na academia, vou procurar ficar em casa para que esse período mais crítico passe o mais rápido possível – contou Rafael Hoffmann, jogador de rugby em cadeira de rodas.

Em nota, o Comitê Paralímpico Internacional declarou que a saúde e bem estar dos atletas é prioridade. Mas reafirmou que os planos para os Jogos Paralímpicos de Tóquio continuam, e que a abertura segue confirmada para o dia 25 de agosto. O presidente do CPB discorda e é contra a realização da competição nas datas planejadas originalmente.

– Eu entendo que não há qualquer hipótese para o acontecimento dos Jogos Paralímpicos na data prevista. Temos classificação para realizar, os atletas sem treinar, e o futuro é completamente imprevisível. Entendo ainda que seria fundamental uma posição imediata do COI, que na última semana se manifestou encorajando os atletas a treinar, uma mensagem inclusive que vai contra o pedido da OMS, que é para as pessoas se isolarem – afirmou Mizael Conrado, presidente do CPB. (Globo Esporte)