Ronaldinho Gaúcho comemora 40 anos de idade vivendo o pior momento da vida. Preso no Paraguai por portar documentos falsos, o ex-maior jogador do mundo e campeão mundial pela seleção, porém, não deixa o sorriso se fechar atrás das grades. Sorriso este que foi o símbolo de seu futebol e que a torcida do Atlético-MG pode experimentar por 24 meses. Nesta data que deveria ser apenas de celebração, o GloboEsporte.com resgata e revela como foi a relação laboral de R10 com o Galo.
Salário fixo de R$ 300 mil em duas renovações contratuais, recebendo outros R$ 150 mil de direito de imagem nos seis meses de 2014. Além disso, ao se despedir, o ex-atacante concordou com duas multas na rescisão contratual, somadas, dariam R$ 25 milhões.
No contrato de imagem firmado entre Atlético-MG e a Planet Invest – empresa na qual o sócio é Roberto Assis, irmão de R10 e também metido na confusão prisional do Paraguai, mais cláusulas interessantes. O empresário do jogador entrou na Justiça cobrando uma dívida original de R$ 7,7 milhões – que com juros e correções, chegou a ser de R$ 13,2 milhões, a serem pagos pelo Galo de forma parcelada entre julho de 2017 e junho de 2021.
A dívida correspondia a valores não pagos de bônus por conquistas (veja abaixo) – das quais a empresa de Assis tinha direito a 10% de toda bonificação (incluindo salário) que Ronaldinho recebesse no Galo. R10 teve direito a receber 50% do lucro que o Galo obteve da venda de camisas com seu nome entre 2012 e 2014.
O ex-melhor do mundo também seria favorecido no mesmo percentual do que o Atlético recebesse dos patrocinadores da omoplata, calção e barra da camisa dos uniformes de jogo e treino, com valores mínimos em cada um dos três espaços. Havia ainda cachês por jogos amistosos a serem acertados “oportunamente”.
Parte do contrato de direito de imagem de R10 com o Atlético — Foto: Reprodução
Início da relação
A relação entre Atlético-MG e Ronaldinho começou em 4 de junho de 2012. A data da sua chegada a Belo Horizonte, com direito a Globocop sobrevoando a Cidade do Galo, em contratação “por baixo dos panos”. R10 havia, dias antes, rescindido o contrato com o Flamengo por meio de ação na Justiça do Trabalho. Assinava com o Atlético para retomar o brilho da carreira. Para tanto, ficou pactuado seis meses de contrato (junho a dezembro de 2012), com um salário baixo de R$ 300 mil, diante do tamanho do jogador.
Primeira parte do contrato de trabalho entre Atlético e Ronaldinho — Foto: Reprodução
Este salário acompanharia Ronaldinho no Atlético durante toda a trajetória que valeu título da Libertadores e da Recopa Sul-Americana. O camisa 10 renovou com o Atlético por duas vezes, em dezembro de 2012 (renovou por mais 12 meses) e em dezembro de 2013 (mais um ano de vínculo). Entretanto, logo após o título da Recopa contra o Lanús, R10 apresentou, segundo o termo de rescisão, “desinteresse em manter-se vinculado ao clube por motivos particulares”. Na rescisão, ficaram acertadas duas cláusulas, uma “anti-Cruzeiro”, e outra “anti-lei do ex”.
Assim como aconteceu na saída do atacante Fred do Atlético (dezembro de 2017), a diretoria alvinegra documentou que, caso Ronaldinho se tornasse jogador do Cruzeiro, o ex-atleta deveria ressarcir o Galo em R$ 15 milhões. A famosa “multa de Fred” é de R$ 10 milhões. No caso de R10, a possível transferência ao Cruzeiro que geraria a indenização não tinha período estipulado – no caso de Fred, era de janeiro a dezembro de 2018.
Alexandre Kalil entrega Galo de Prata à Ronaldinho Gaúcho — Foto: Bruno Cantini/Flickr CAM
Vale lembrar que o Cruzeiro chegou a vislumbrar contratar Ronaldinho e o filho do jogador, João Mendes, atua na base celeste
Ronaldinho, após deixar o Atlético, foi jogar no Querétaro, do México, e depois voltou ao Brasil para atuar no Fluminense, no crepúsculo da carreira. Pelo Tricolor, chegou a enfrentar o Atlético no Brasileirão 2015. Se o reencontro acontecesse em 2014, R10 então teria de pagar R$ 10 milhões ao Galo (veja abaixo).
Rescisão contratual entre Atlético-MG e Ronaldinho — Foto: Reprodução
Premiação por Libertadores
Além do salário de R$ 300 mil, Ronaldinho tinha outros recursos financeiros oriundos do Atlético-MG. Na fase de mata-mata da Libertadores 2013, por exemplo, R10 acumulou R$ 220 mil de “bicho”. Só na final contra o Olimpia, ele teve direito a R$ 100 mil. Pela Recopa Sul-Americana, na despedida, Ronaldinho recebeu mais R$ 30 mil.
Mas estes valores eram uma gratificação jogo a jogo. No contrato de direito de imagem, Ronaldinho e Atlético acertaram que o jogador, por meio de uma das empresas do irmão/agente, teria direito a R$ 5 milhões – R$ 3 milhões pela taça de 2013 e, consequentemente, mais R$ 2 milhões pela vaga na edição 2014 do torneio.
Ronaldinho em homenagem no Atlético-MG — Foto: Bruno Cantini/Atlético-mG
Quando firmou novo contrato de direito de imagem válido entre janeiro e dezembro de 2014 – e que seria rompido em julho do mesmo ano, as partes informavam que o Atlético devia a R10 mais de R$ 10 milhões por não pagamento dos bônus da Libertadores, mas também do título do Campeonato Mineiro 2013 (R$ 500 mil), R$ 3 milhões por vendas de camisetas do jogador entre 2012 e 2013 e valores de patrocínio.
No extrato abaixo, é elencado as dívidas do Atlético com a Planet Invest. Os R$ 10 milhões diminuiriam para R$ 9,6 milhões, já que Ronaldinho havia comprado um camarote na Arena Independência por R$ 360 mil, valor abatido. Em 2014, entretanto, o jogador e Assis fizeram questão de terem direito ao espaço nobre no Horto, em cláusula contratual.
O Atlético prometia pagar os R$ 9,6 milhões cedendo créditos a receber da empresa Filon Confecções, responsável pelo uniforme assinado pela Puma naquele ano. Além disso, R10 teria direito a R$ 1 milhão de crédito do Atlético com a patrocinadora que exporia a marca na barra da camisa, além de R$ 1,3 milhão que a Lupo pagaria ao Galo (fornecedora dos materiais de 2013).
Dívida do Atlético com R10 no início de 2014 — Foto: Reprodução
Bônus “mínimos” garantidos
Ao renovar o contrato com o jogador em 2014, Atlético também renovava parceria com Roberto Assis e sua empresa Planet Invest, conforme descrito acima. Além das cláusulas envolvendo venda de camisas e recebimento de receitas provenientes de patrocinadores da camisa, Ronaldinho receberia bônus por conquistas de taças, sendo que havia um valor mínimo garantido de R$ 1.950.000,00, independente de ele ser campeão ou não.
Em 2014, último ano de R10 em BH, o Galo venceu a Copa do Brasil (que daria R$ 2 milhões ao ex-atleta) e conseguiu vaga na Libertadores (mais R$ 2 milhões), mas as duas metas foram batidas com Ronaldinho já no México.
Os prêmios que Ronaldinho ganharia no Atlético em 2014, seu último ano no clube — Foto: Reprodução
Dívida e acordo na Justiça
No “Termo de Resilição Contratual” com Ronaldinho, o Atlético admite ser devedor de R$ 830 mil, que seriam pagos em duas parcelas idênticas de R$ 415 mil, em agosto e setembro de 2014. O Galo atrasou o pagamento e R10 entrou na Justiça do Trabalho para cobrar multa. Após audiências e despachos, as partes acordaram que o Galo pagaria R$ 343.780,00 em dez parcelas, a contar a partir de junho de 2017.
Mas houve um débito bem maior com R10, por meio da empresa do irmão Roberto Assis, por conta de verbas de comissão e direitos de imagem (que envolvem os bônus já destrinchados). Em julho de 2017, depois do empresário acionar o Atlético no Tribunal de Justiça de Minas Gerais, e o Galo chegar a ceder o Clube Labareda (avaliado em R$ 40 milhões) como bem à penhora, para garantir a quitação do débito, as partes celebraram acordo e os R$ 7,7 milhões devidos viraram R$ 13 milhões, parcelados em 48 vezes de R$ 275,4 mil até 2021.
Acordo entre Atlético e a empresa de Assis que recebia direito de imagem e comissões — Foto: Reprodução
(Globo Esporte)