I – Quem, com um mínimo de bom senso, assistiu as manifestações pró Bolsonaro no último dia 15 certamente ficou estarrecido com o exacerbado nível de imprudência, quase loucura. Enquanto os dirigentes de todos os países civilizados estão preocupados com a imposição de medidas que impeçam maior propagação da peste deste século, no Brasil houve um verdadeiro show de sandices e inconsequências egoísticas. Pior, sob aplausos variados! Ou silencio ensurdecedor, o que é pior ainda.
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As pestes e pragas – nos dois sentidos – não são raras no mundo. O que espanta é que estejam tão presentes em pleno século XXI. Que, por ser o século da comunicação instantânea, do avanço das pesquisas científicas, da propagação do conhecimento sobre as ideias e as liberdades públicas, deveria ser tido também como o século em que a Razão e o Bem Comum haveriam de prevalecer. No entanto, o panorama é desolador, miseravelmente desolador. Enquanto que as cidades na Europa e na Ásia, algumas entre as mais belas do mundo, estão com as ruas desertas e a população recolhida em casa, os cientistas e médicos de olhos atentos aqui temos movimentos inconsequentes, movidos por mera ideologia rastaquera, convocando as pessoas para as ruas. Há um Mágico de Oz entre os brasileiros? Ou somos todos, a nosso modo, aprendizes de mágicos para acreditarmos em estranhas e maléficas magias?
II – As pestes não são raras em nosso planeta. E não é preciso ir longe, buscar nas páginas bíblicas, para isso constatar. Há um século o mundo viveu flagelo de imensa força, que muitos anunciaram ser o prenuncio do fim dos tempos. O Apocalipse, o Juízo Final, profetizados desde tempos imemoriais. O flagelo nascido nos Estados Unidos, como impiedoso tsunami, tomou conta do mundo. A partir de uma base militar no Kansas, a epidemia se alastrou e nada como antes iria matar mais gente. Embora os primeiros casos verificados remontem ao final de 1917, provavelmente nos campos de batalha europeus, o primeiro registro científico foi no dia 4 de março de 1918. A pandemia ficaria conhecida com a “Gripe Espanhola”. Em 1999, oitenta anos depois, pesquisas do virologista John Oxford indicaram como provável foco de origem um hospital militar no extremo norte da França, no inverno do ano de 1917.
A epidemia virou pandemia e ocupou a Europa ainda conflagrada e, em pouco mais de seis meses, pelo Nordeste, chegaria ao Brasil. Embora não haja fontes exatamente corretas, as estimativas posteriores calculam em torno de 40 a 50 milhões os mortos em decorrência da peste. Para se ter uma simples ideia do que ela representou, estima-se que a Guerra Mundial de 1914 a 1918, a primeira grande mortandade da humanidade, tem como estimativa, nos quatro anos que durou, entre 10 milhões e 20 milhões de mortos.
No Brasil, entre as personalidades mais importantes que foram vitimadas esteve Rodrigues Alves. Eleito, em 1º de março de 1918, para o seu segundo mandato na Presidência da Republica, contraiu a doença em 15 de novembro e faleceu em 16 de janeiro do ano seguinte, sem ter tomado posse.
Aqui em Cuiabá as mortes foram em grande quantidade e uma figura ilustre foi o padre Armindo Maria de Oliveira [6/09/1882 – 22/12/18] secretário particular de D. Aquino Correia, que, no inicio daquele ano, havia tomado posse como presidente do Estado.
Assim, acredito que a ser mantida a próxima eleição senatorial para a data de 26 de abril será um risco impensável. A não ser que votemos com o cotovelo.
Notas: 1 – Já havia escrito este artigo, quando o TSE acaba de suspender o pleito. Prevaleceu o bom senso. Aplausos.
2 – O título do artigo seria “Votando com o cotovelo”, também pela continuidade que ele teria sobre as coligações para o pleito senatorial. Voltará como esse título como análise desses muito estranhos arranjos eleitorais, ou eleitoreiros.
*SEBASTIÃO CARLOS GOMES DE CARVALHO é professor e advogado. Publicou, entre outros, “A Natureza pede Socorro”, uma abordagem político-filosófica da ecologia. Membro da Academia Mato-Grossense de Letras.