Mas eis que de uma hora para outra ele se transforma, não sei se contagiado pelo vírus da intemperança que coloniza o Capitão e a família, perde a serenidade enche a boca de inapropriadas palavras chulas e passa a atacar o Congresso Nacional.
O último e mais nocivo ato do General e dos apoiadores do Capitão foi a convocação do povo para um ato de rejeição ao Congresso Nacional marcado para o próximo dia 15 de março, o que é uma insensatez.
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O Presidente e sua turma entraram de cabeça no movimento de repúdio ao Congresso colocando-se de novo como o Messias enviado para salvar o povo brasileiro das mãos dos políticos, como se eles (os políticos) não fossem um mal necessário.
Não creio que o Exército esteja envolvido em conluios para instaurar uma ditadura no Brasil, nem acho que o Presidente – por enquanto – pense nisto como sugerem os que se manifestaram nas redes sociais.
A disputa entre os poderes sempre houve e sempre existirá. Cada um quer mandar mais que o outro o que é próprio dos regimes democráticos. Neste momento o que está pegando é o controle de parte do orçamento – coisa aí de aproximados 30 bilhões de reais de emendas parlamentares – que a Câmara insiste em administrar contrariando os interesses do Planalto.
Nesta quarta feira de cinzas, dia em que no Brasil dizem que começa o ano, temos três notícias desagradáveis: a primeira, porém já esperada, é que surgiu o primeiro caso de confirmação da Coronavírus no País; a segunda é a baixa generalizada das ações na Bolsa de Valores também mais ou menos esperada em decorrência da epidemia mundial da Covid-19; e a terceira é o início de uma crise institucional com a convocação de apoiadores do governo para uma manifestação popular contra e Congresso Nacional, situação que já levou alguns deputados a sugerirem o impedimento do Presidente.
As duas primeiras ocorrências são inevitáveis, porém a terceira que tem enorme potencial destrutivo apareceu como resultado de mais uma barbeiragem do Presidente e do General Augusto Heleno, ministro do Gabinete da Segurança Institucional.
As baixas na bolsa podem ser um solavanco com recuperação rápida, mesmo porque mais cedo ou mais tarde teríamos mesmo que conviver com essa epidemia e com seus reais, porém não alarmantes danos. Mas a repercussão da agressão ao Congresso, se prosperar até seu desfecho no próximo dia 15, pode inviabilizar uma negociação com os deputados e comprometer a futuras reformas.
O problema não é a aceitação ou não do governo das pretensões dos congressistas, mas a escolha das armas da luta. Esta defesa se faz politicamente, como fez o Rodrigo Maia em comedida nota oficial, não estumando o povo contra o Parlamento, símbolo maior da democracia.
*RENATO DE PAIVA PEREIRA é empresário e escritor em Mato Grosso.
E-MAIL: renato@hotelgranodara.com.br