Na última sexta-feira, dia 14 de fevereiro, foi inaugurada a pavimentação do trecho de 51 km ligando, finalmente, toda a BR-163, a Cuiabá-Santarém, ao porto de Miritituba, no Pará. Demorou 44 anos para ser completamente pavimentada. Foi muito significativo pelas origens e pela história dessa rodovia. Tomo a liberdade de resgatar, porque no país perdeu-se a noção da História como referência de pátria ou mesmo de nação.
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Em 1971, o coronel Antonio Paranhos inaugurou o 9º Batalhão de Engenharia e Construção, o 9º0. BEC, transferido do Rio Grande do Sul, onde era o 5º. BEC, pra iniciar a construção da rodovia BR-163. A obra seria concluída na gestão do coronel José Meireles, em 1976. Foi uma epopeia gigantesca, considerando o tempo gasto na construção, que foi de cinco anos, com as máquinas da época. Sem contar o desconhecimento da selva e a falta de todos os tipos de recursos. Conversas com pioneiros da construção, impressionam pela coragem e determinação militares.
A rodovia fazia parte do Programa de Integração Nacional – PÌN, do governo federal , pra integrar a Amazônia ao restante do país. Lembrando que na época a França defendia uma tese de que a Amazônia não era só brasileira. Daí o PIN. Desde Tenente Portela – RS até Santarém seria 3.579 km. De sul a norte do país. Uma imensa aventura rodoviária.
Inaugurada em 1976 pelo presidente Ernesto Geisel, não foi asfaltada a partir de Cuiabá, porque a crise do petróleo em 1973 quebrou a economia brasileira. Em 1983 outra crise. O asfalto só veio em 1983 em diante no governo mato-grossense de Júlio Campos, com empréstimos internacionais. Foi até a então vila de Santa Helena, na entrada pra Colider. Foi até a divisa do Pará, e de soluço em soluço, chegou a Santarém, mas ficaram faltando 51 km no estado. Em 2018, 5 mil carretas carregadas de soja e milho passaram o Natal atoladas nesse trechinho.
O que significa a conclusão? Em 1976, na inauguração, Mato Grosso não produzia nada exportável. Mal e mal o consumo interno. Hoje, pela rodovia BR-163 sobem pros portos de Miritituba e Santarém 13 milhões de toneladas anuais de grãos e carnes. Com tendência de dobrar em cerca de dez anos. Em Mato Grosso e Pará a rodovia tem 1.300 km. Segundo a Aprosoja o frete agora cairá 26% o que significa R$ 780 milhões por ano. Esse dinheiro fica na fonte da produção. Representa lucro pros produtores. Já o Instituto Mato-grossense Pesquisa Agropecuária-IMEA fala na imediata redução do frete em 10%.
Apenas lamento, que tendo demorado tanto, todos os personagens daquela época histórica não estejam aqui pra assistir à finalização do seu sonho. Todos já morreram. Mas, afinal, o seu sonho se concluiu.
*ONOFRE RIBEIRO é jornalista e escritor em Mato Grosso
CONTATO: onofreribeiro@onofreribeiro.com.br — — www.onofreribeiro.com.br