O primeiro mês do ano foi marcado pela campanha ‘Janeiro Branco’, que tem como objetivo mobilizar a sociedade em favor da saúde mental e o bem-estar de indivíduos, convidando as pessoas a pensarem suas vidas, colocando o tema em máxima evidência. Também desperta a atenção para o aumento significativo de transtornos relacionados ao humor e a ansiedade, como a depressão e os transtornos de ansiedade generalizada, que muitas vezes ode ocasionar o agravamento do quadro, levando até a tentativas de suicídio, que tem aumentado significativamente.

Segundo a Secretaria de Estado e Saúde (SES), com dados do Sistema de Informação e de Mortalidade (SIM), em 2018, 216 pessoas cometeram suicídio em Mato Grosso e cerca de 200 tiram a própria vida por ano no Estado.

Ainda de acordo com os dados, o suicídio é a terceira maior causa de morte entre homens e a sétima entre as mulheres. Os números mostram uma realidade ainda mais assustadora e que requer atenção: A idade média em ambos os sexos é  entre 15 a 29 anos.

Nos período de 2015 a 2018, a maioria das tentativas de suicídio ocorreu por mulheres, que representam 61,4%, enquanto os homens 38,6%. Em ambos os casos, 65% são decorrente de envenenamentos ou intoxicação. Porém, em casos de mortes, os homens  são a maioria com 78,3%, demonstrando um sério problema de saúde pública e social.

Para psicóloga Daniela Bezerra, os municípios que possuem o Centro Integrado de Assistência Psicossocial (CAPS) têm uma redução de 14% no número de suicídios.

“Existem inúmeros fatores de riscos, mas uma pessoa pode, de repente, cometer uma tentativa ou aos poucos, com idéias, como frase do tipo ‘ah, acho que a vida não vale nada’. Caso alguém perceba essas atitudes, encaminhe a pessoa até o CAPS do município ou a unidade de saúde mais próxima, relatando a situação, pois todas elas oferecem o suporte inicial adequado”, pontuou.

Para Daniela, não existe nenhum protocolo de saúde mental que sirva para todos os indivíduos, onde se pode dizer que a pessoa está passando por essa situação. “Está associado a múltiplos fatores, começando pela desigualdade social até intoxicação por agrotóxicos que influencia o sistema nervoso. Não existe nenhuma pesquisa no Brasil que aponta o motivo do suicídio por tal fator. Caso não se sinta bem, tanto o paciente, quanto família, pode procurar a rede pública de saúde e falar da tristeza dela”.

A psicóloga explica que a maioria das pessoas busca apenas o apoio espiritual, o que não é suficiente. “A gente houve constantemente pessoas falando que outras se mataram por falta de Deus, mas não é bem assim, às vezes é um problema crônico e precisa ser tratado. Claro que outros recursos, como esporte, lazer e religião influenciam na qualidade de vida, mas se ela nunca teve esse acesso à saúde, torna-se muito mais arriscado. O Sistema Único de Saúde (SUS) atualmente oferece a melhor estrutura para atender o individuo nessa situação”.

Ainda, segundo Daniela, após o início, o tratamento deve ser contínuo, não existe cura, mas sim melhoras significativas, pois o ser humano de forma geral passa por constantes  oscilações.

“Saúde mental não visa cura, visa tratamento, são problemas crônicos não transmissíveis, assim como envelhecimento que não é contagioso. Se a família é bem orientada e entender que a pessoa não está bem e precisa de ajuda, o primeiro passo é  encaminhá-la até uma unidade de saúde para receber a devida assistência”.

REGISTROS

Nos últimos dias, a Grande Cuiabá registrou três casos de suicídios. No primeiro, um homem tentou se jogar do precipício ‘Portão do Inferno’, localizado em Chapada dos Guimarães (70 km da Capital) e é salvo por um motoqueiro que passava pelo local. Em seguida ele foi socorrido por populares e entregue a sua família. O caso ocorreu no dia 18 de janeiro deste ano.

Já no segundo, uma mulher de 40 anos pulou da Ponte Sérgio Mota, em Várzea Grande, sendo salva por um pescador que conseguiu puxá-la para dentro da canoa. Ela foi socorrida, encaminhada até uma unidade de saúde para receber atendimento médico e não corre risco de vida.  O caso ocorreu no 26 de janeiro.

No terceiro, o corpo de um homem que pulou da Ponte Nova foi resgato pelo Corpo de Bombeiros, também em Várzea Grande. No local, havia uma faixa pendurada com a seguinte mensagem: Suicídio não é a solução. Não deixe os problemas controlarem sua vida. Deus está com você e esse é o seu valor”.  O caso foi registrado no dia 28 de janeiro.

POSTOS DE ATENDIMENTOS

Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), em suas diferentes modalidades, são pontos de atenção estratégicos da RAPS, serviços de saúde de caráter aberto e comunitário, constituído por equipe multiprofissional e que atua sobre a ótica interdisciplinar e realiza prioritariamente atendimento às pessoas com sofrimento ou transtorno mental – incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas, em sua área territorial, seja em situações de crise ou nos processos de reabilitação.