Um motociclista salvou a vida de um homem que tentava se suicidar no Portão do Inferno, no último fim de semana. Um motorista registrou a ação.

É incrível como este registro traz a reflexão sobre dois exemplos opostos de conduta. Por um lado, a louvável atitude do motociclista, que ignorou qualquer possível risco para salvar a vida de alguém, incondicionalmente. Ele deixa sua moto, corre até o despenhadeiro e arranca o homem de cima do parapeito. Ação rápida, poucos passos e um grande feito: uma vida resgatada da beira da morte.

Por outro lado, temos a representação da maioria. Quando digo maioria, me refiro à “geração smartphone”. Hoje, o valor de uma repercussão virtual é maior que o valor de uma vida. Curtidas, comentários, compartilhamentos… troféus que as redes sociais oferecem em troca de registros que, às vezes, estão à margem do que se pode considerar “humano”.

Sem conhecer o homem que queria se abrir mão da própria vida, o motorista que fez a filmagem julga, o chama de louco, repete com ênfase que se trata de um “doido depressivo”, vê claramente que uma tragédia se aproxima e se omite, se mantém na posição de cinegrafista amador não-remunerado. Frio, em busca de seu registro trágico, ele simplesmente não faz nada. A poucos metros de uma fatalidade evitável, quem estava no controle do vídeo opta por se preocupar apenas com o seu registro, ao invés de oferecer qualquer tipo de auxílio. Ao ver que tudo terminou bem, ele interrompe a gravação e segue viagem.

 

A depressão é o mal do século, todos sabem, isso está escancarado por todos os lados. Rico, pobre, gordo, magro, branco, negro… a doença não escolhe padrão, cor, crença, classe social. Ela está na sua casa, no seu trabalho e está também nos lugares e momentos de alegria, escondida por trás de sorrisos e de vidas aparentemente comuns. Só quem vivencia esta batalha entende a que ponto ela conduz os pensamentos.

É lamentável ver que as pessoas ainda se reduzem à essa condição desumana de julgamento. Triste também é ver os comentários nas redes, quando casos como este ganham repercussão. Opiniões como: “Isso é falta de Deus!”; “Tem que ser louco para querer tirar a própria vida!”

Vocês já viram que há inclusive líderes religiosos nesta batalha? Já repararam que opiniões como essas estão ultrapassadas, fora de moda, e que vão na contramão de movimentos importantes de combate? Enquanto uns expõem seus comentários negativos, que não têm utilidade alguma além de massagear seus próprios egos, outros estão preocupados com o caminho da humanidade. Há movimentos se consolidando para oferecer a essas pessoas o que  nem o serviço público de saúde oferece. Tem gente que ainda se preocupa em fazer o bem.

Portanto, pare de vomitar asneiras! Pare de contribuir com a maldade! Ela não é bem-vinda. Abra os olhos, enxergue ao redor. Saia do modo automático. Se não tem nada útil a dizer, não diga nada, não precisa ajudar, apenas permaneça na insignificância. Quando a única coisa que se tem na ponta da língua é veneno, o seu silêncio já é um grande favor.

LUIZ GUILHERME VIEIRA é repórter em Cuiabá.