Se um cirurgião falha, o paciente pode morrer; se um motorista é imprudente, pode causar um acidente grave. Nesses dois exemplos podem perder a vida algumas pessoas. E quando o Ministro da Educação sequer domina a variante padrão da Língua Portuguesa? E quando propagandas oficiais vêm eivadas de desvios gramaticais crassos? A resposta é simples: mata-se, ainda que metaforicamente, milhões. Não existe mal maior que a disseminação da ignorância.

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Quando o parnasiano Olavo Bilac escreveu “Última flor do Lácio, inculta e bela”, queria apenas homenagear o idioma pátrio com um soneto clássico. Inculto por ter nascido do latim vulgar, falado por soldados e outros romanos que não tiveram acesso ensino escolar; belo porque assim o entendia “O príncipe dos poetas brasileiros”.

Que o senhor Weintraub presta um desserviço ao povo quando retira dinheiro da educação e corrobora as  ideias nazifascistas do ocupante do Alvorada, não restam dúvidas. Recentemente, o “professor” Abraham Weintraub leu e assinou um ofício no qual havia duas ocorrências da palavra paralização com “s”.  Em desfavor da educação brasileira, há, nesse senhor, um exorbitante cinismo atrelado a uma incapacidade linguística e pedagógica descomunais.

Já o Governo de Mato Grosso, calçado por agências de publicidade, institui o programa “Nota MT”. Essa é uma iniciativa que visa à melhoria da arrecadação e do controle do Estado, coibindo fraudes. Louvável, mas…  o “Nota MT” poderia levar nota 10, não fosse a frase, estampada em letras garrafais, em empenas espalhadas pela Cidade Verde, “Pede a nota e concorra…” (sic). Alguns poderão argumentar que o que importa é a comunicação, sim; porém, se tão essencial, por que não a fazer de acordo com a Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB), afinal, todos sabemos a força da publicidade, ainda mais quando gritantemente ostensiva. Qual a dificuldade em consultar sítios, na internet, sobre concordância entre modos e tempos verbais? Nesse caso, tem-se duas possibilidades: “Pede a nota e concorre…” (Imperativo Afirmativo – 2ª pessoa do singular – tu) ou “ Peça a nota e concorra…” (Imperativo Afirmativo – 3ª pessoa do singular – você/ele). Como se vê, nada de outro mundo, óbvio.

Clarice Lispector disse: “A língua portuguesa é um verdadeiro desafio para quem escreve. Sobretudo para quem escreve tirando das coisas e das pessoas a primeira capa de superficialismo”. Claro que a gramática pela gramática é atitude inócua; todavia, vilipendiá-la é somente uma das formas de revelar descompromisso e despreparo para perceber as nuances das ações engendradas pelos discursos. Por trás de “erros inocentes” há um mundo invisível, por vezes tenebroso, como apregoa Shakespeare: “Há mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar nossa vã filosofia”.

*SÉRGIO CINTRA é professor de Redação e de Linguagens em Cuiabá.

CONTATO: sergiocintraprof@gmail.com — — — —  www.facebook.com/sergio.cintra.77?ref=br_rs

Ministro da Educação, Abraham Weintraub