Júlio Campos é uma das raras inteligências entre os políticos mato-grossenses e tem que ser respeitado por essa condição. Ao respeito que se deve a ele soma-se sua fidelidade partidária aos ideais do movimento militar de 1964, como atesta sua postura partidária iniciada na Aliança Renovadora Nacional (Arena) até chegar ao DEM, passando pelas denominações anteriores do partido. Em nome dos postulados citados e por sua experência na vida pública, Júlio Campos quer disputar a eleição suplementar ao Senado, o que acho inconcebível – independentemente de seu histórico – em razão de sua consanguinidade com o senador democrata Jayme Campos.
Senado é tribuna da serenidade, de debates em alto nível, de intransigente defesa dos interesses nacionais e trincheira de lutas do senador pelo Estado que representa. Não pode ser cenário para a familiocracia, independentemente de quais sejam os familiocratas.
Se Júlio Campos não fosse irmão de Jayme Campos – avalio – seu desejo de ser novamente senador seria plenamente justificável. Porém, os laços de família surgem como entraves tanto para o pleno exercício do mandato (nesse caso mandatos) em caso de vitória, quanto para o eleitorado que não absorverá bem essa condição.
Meu entendimento em nada mudará o curso do projeto político de Júlio Campos. Creio até, que a mídia, sempre solidária aos poderosos, não economizará elogios à volta de Júlio Campos aos palanques, onde esteve quando disputou, venceu e perdeu eleição para prefeito de Várzea Grande; quando por suas vezes se elegeu deputado federal; quando conquistou o governo e ao ser derrotado para o mesmo cargo; e quando foi senador.
Político extremamente habilidoso e mestre na arte da composição entre quatro paredes e fora delas, Júlio Campos – acredito – concorrerá ao Senado sob intensas luzes acesas pela Imprensa e grandes caciques estaduais e regionalizados. Mesmo assim, imagino que sua candidatura sofrerá duros ataques nas mídias sociais que fogem ao controle do poder e dos poderosos.
Júlio Campos e Jayme Campos no poder será nova versão da familiocracia mato-grossense na bancada federal. Antes, ela foi representada pelo senador Jonas Pinheiro e sua mulher a deputada federal Celcita Pinheiro; e pelo senador Carlos Bezerra e sua mulher Teté Bezerra. Jonas ainda tentou aumentar seu poderio familiar lançando seu irmão Leôncio, candidato a deputado estadual, o que não se viabilizou diante do descontentamento de políticos do PDS ao qual era filiado. Dante de Oliveira (PSDB) também a quis adotar; saiu ao Senado, foi derrotado, mas sua mulher, a tucana Thelma de Oliveira se elegeu deputada.
Essa familiocracia aconteceu e permanece em outras áreas do poder político: Jayme Campos foi governador e Júlio Campos senador. Bezerra cumpriu um mandato de deputado federal com Teté Bezerra na Assembleia. O vice-governador Otaviano Pivetta (PDT) é irmão do prefeito de Nova Mutum e seu correligionário Adriano Pivetta. O deputado estadual Max Russi (PSB) e o prefeito de São Pedro da Cipa, Alexandre Russi (PL), são irmãos. Irmanadade também é o que há entre o deputado estadual Nininho (PSD) e o prefeito de Itiquira, Humberto Bortolini (PSD). O prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (MDB) é pai do deputado federal Emanuel Neto, o Emanuelzinho (PTB). Jayme Campos é marido da prefeita de Várzea Grande, Lucimar Campos (DEM). José Domingos (PSD) foi deputado estadual enquanto seu irmão, Neurilan Fraga (PL), prefeito de Nortelândia. O prefeito de Barra do Garças, Beto Farias (MDB) é filho de Cândida Farias (MDB), segunda suplente de Jayme Campos. Em Rondonópolis Percival Muniz (PPPS) foi prefeito, e seu primo, Tiago Muniz (DEM), vereador. Márcio Lacerda (MDB) foi senador, e seu irmão, José Lacerda (MDB), deputado estadual. José Riva (PSD) foi deputado e controlou a Assembleia Legislativa por 20 anos e seus irmãos Priminho Riva (PSD), em Juara, e Paulo Rogério Riva (PSD), em Tabaporã, foram prefeitos reeleitos naqueles municípios. Zeca Viana (PDT) foi deputado estadual, e seu irmão, Getúlio Viana (PSB), prefeito de Primavera do Leste. Jayme Campos foi senador, e seu irmão, Dito Paulo (DEM), prefeito de Jangada. O senador Welllington Fagundes (PL) é sogro da deputada estadual Janaína Riva (MDB). Ságuas Moraes (PT) foi deputado estadual, e sua mulher, Joselina Moraes (PT), vice-prefeita de Juína. Blairo Maggi (PR) foi governador, e seu primo, César Maggi (PR), prefeito de Sapezal.
Cassada, a senadora Selma Arruda (Pode) aguarda o momento da abertura do alçapão do enforcamento judicial para deixar o cargo e mergulhar numa longa inelegibilidade. Picado pela mosca azul familiar, Júlio Campos se prepara para disputar a cadeira aberta com a cassação de Selma Arruda. Mato Grosso acompanha essa situação, sem grandes manifestações, tratando tudo com muita naturalidade.
Selma Arruda foi enrodilhada pelos tentáculos dos conchavos de bastidores, que não medem consequências na luta pela poder. Se realmente ela cometeu crimes de abuso de poder econômico, caixa 2 e campanha extemporânea, sua cassação é justa, mas ao mesmo tempo, por amostragem, pois ao longo da disputa em 2018, o que mais se viu em Mato Grosso foram sinais exteriores de gastos abusivos por parte de candidatos majoritários e proporcionais.
Selma Arruda, no aspecto político, começa a sair de cena. Júlio Campos ensaia retorno a esse universo. O adeus da senadora não passou pelo crivo popular, uma vez que foi decidido pela cara e lenta Justiça Eleitoral. A volta de Júlio Campos somente será possível caso o eleitorado faça vistas grossas e diga amém ao surgimento da Bancada dos Campos no Senado
*EDUARDO GOMES DE ANDRADE é jornalista em Cuiabá, escritor e editor de ww.boamidia.com.br
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