Um dos espetáculos mais deprimentes dos últimos meses é o vendaval de calúnias, impropérios e mentiras que se abateu sobre uma frágil adolescente sueca, Greta Thunberg. É patético ouvir mulheres, muitas vezes oprimidas e discriminadas em seus ambientes profissionais e familiares, reproduzindo maledicências de extremo conteúdo misógino. É nauseante presenciar setentões zangados, que jamais moveram um dedo por uma causa de interesse coletivo, postando zombarias quanto ao fato da jovem ser portadora da Síndrome de Asperger.

Visão, uma revista portuguesa (www.visao.sapo.pt), fez uma extensa matéria sobre as “mentiras mais loucas” que são propagadas contra essa garota. Até o vídeo de alguém atirando com uma metralhadora foi divulgado como se fosse ela, além de calúnias sobre seus pais.

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Por que tudo isso?

Greta incomoda e muito porque com a sua iniciativa solitária alguns meses atrás de postar-se com um cartaz de protesto defronte ao Parlamento sueco deflagrou um movimento de milhões de jovens em dezenas de países.

Greta irrita e muito porque a crueza e objetividade de suas palavras denuncia, por contraste, a hipocrisia de discursos empolados que disfarçam a inércia e o conformismo.

Greta exaspera e muito porque o seu ativismo põe a nu a inação de tantos que tinham a obrigação ética e profissional de agirem.

Greta desconforta e muito porque a sua coragem contrasta com a covardia de tantos líderes políticos e empresariais.

Os reacionários e ressentidos criticam Greta de todas as formas e por quaisquer motivos. E quando faltam motivos, inventam-nos, temperando-os com inveja, raiva e brutalidade.

Exigem que Greta, com seus dezesseis anos, apresente a maturidade e o equilíbrio que não cobram de Trump e assemelhados.

Reclamam que Greta, estudante secundarista, não conclua suas críticas com “soluções técnica e economicamente viáveis”, que nem os próprios governos e conglomerados empresariais conseguem formular e/ou muito menos implementar.

Denunciam que Greta é repetitiva e monotemática, ao cuidar apenas da questão das mudanças climáticas, sem perceber que isso é, ao mesmo tempo, uma virtude e uma necessidade. Virtude, porque ela não tem a pretensão de abraçar todas as causas, mas se concentrar naquela que julga a mais importante ou na qual sua participação pode ser mais efetiva. Necessidade, porque enquanto uma crise não é resolvida – e ao contrário se agrava – tanto mais crucial que o problema seja debatido.

Quanto a mim, não tenho ódio nem raiva a Greta Thunberg. Tenho admiração pela sua coragem e desprendimento. Tenho respeito pela sua sinceridade e também, reconheço, tenho um pouco de inveja de sua juventude e vitalidade. E tenho muita compaixão da miséria moral, intelectual e emocional dos seus detratores.

Vá em frente, Greta! Torço por ti e pela tua geração de jovens, que é a dos meus filhos, que se dedicam a lutar pela vida. Como cantava Gonzaguinha, “eu acredito é na rapaziada que segue em frente e segura o rojão (…) eu vou à luta com essa juventude que não corre da raia à troco de nada”.

PS: Esse artigo já estava pronto quando uma autoridade de nosso país depreciativamente qualificou Greta como “pirralha”, o que me fez lembrar Tom Jobim: “se todos (os pirralhos) fossem no mundo iguais a você, que maravilha viver …”.

*LUIZ HENRIQUE LIMA  é professor e Conselheiro Substituto interino do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso (TCE-MT).

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