Qual seria a preocupação maior dos viventes? A felicidade.

Em época de depressão, corre-corre, nostalgia ao extremo, saudades não sublimadas, violência etc., ela está, sempre, em nosso norte magnético. Para a felicidade, em utopia ou concreção, em linha nem sempre reta, caminhamos.

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Descartes, em seu primoroso ‘Discurso do Método’, assinala uma moral provisória, consistente em três máximas, nessa busca pessoal. Até então provisória, ressalta-se, pois, posteriormente, buscou outros horizontes reflexivos na afirmação de seu ‘eu’.

A primeira, obedecer às leis e aos costumes de seu país, guardando com firmeza a fé religiosa na qual foi instruído desde a infância, e se governando em todas as outras coisas de acordo com as opiniões mais moderadas e mais distantes do excesso.

A segunda, em ser o mais firme e mais decidido possível nas ações e em não seguir menos firmemente as opiniões mais duvidosas, quando a isso houver decidido. Para retratar essa condição, se compara a um viajante que, perdido em uma floresta, não deve errar girando ora para um lado, ora para outro, nem muito menos deter-se num lugar, mas caminhar sempre o mais reto que puder para um mesmo lado, não o trocando por nenhum motivo, apesar do acaso na escolha.

A terceira, procurar sempre vencer antes a si mesmo do que à fortuna e mudar antes os próprios desejos do que a ordem do mundo, e, em geral, acostumar a crer que nada há que esteja inteiramente em nosso poder, a não ser os nossos pensamentos.

O citado filósofo expôs essas assertivas em caráter provisório e inseriu-se nesse contexto por nove anos, ou pouco menos. Buscou a autenticidade em seus momentos reflexivos, após.

Mas de tudo, o que merece destaque, penso, é o reconhecimento de que os desejos se encontram limitados pela ordem das coisas, e de absoluto somente o próprio pensamento. Tem-se a lógica de que pensar não incomoda ninguém! Atos meramente ‘cogitatórios’ não se punem, nem pelos costumes.

Contudo, se penso, logo existo (!), nos inquietemos, então. Em pensamento, julgamos, e, às vezes, até por teimosia intelectual, colocamos no papel. Hoje em dia, na internet também.

Reputações sendo enxovalhadas por canetas ou teclados impiedosos. Todos se assentam em uma espécie de júri coletivo, emitindo opiniões das mais variadas, doa a quem doer. Pimenta nos olhos dos outros não arde.

Tempos difíceis, aliás, o tempo não é mais o senhor da razão; o Google e seus arquivos, sim. Fico imaginando como seriam, na atualidade, as metáforas lançadas por Nelson Rodrigues e comentadas por seus leitores, na biblioteca virtual. No século seguinte virariam prólogos de anônimos; sim, porque destes ninguém sabe a origem.

E por qual motivo o pensamento é de poder absoluto? Simples, dele há prescindibilidade de qualquer contraditório.

Descartes deveria escrever-lhe, em osmose quântica, o quão é perigoso pensar, pensar alto e errado. Se cada qual guardar para si a ‘genialidade’ que o incomoda, menos mal produziria. Mas, imperando a verborragia e a incontinência, somos refém; e sem anestesia a ludibriar o efeito.

A felicidade, portanto, não é solitária, saibamos buscá-la em comunidade. Portanto, menos, meus viventes; enterremos a distopia.

É por aí…

*GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO   é formado em Filosofia e Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); é da Academia Mato-Grossense de Magistrados (AMA), da Academia de Direito Constitucional (MT), poeta, professor universitário e juiz de Direito na Comarca de Cuiabá.

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