Desde criança ouço meu pai dizer que aqui em Cuiabá o comercio deveria funcionar das sete às onze da manhã, e das catorze às dezoito ou dezenove horas, evitando o sol escaldante e a temperatura insuportável das onze às catorze horas.

E olha que ele começou a dizer isso há cinco décadas quando Cuiabá tinha a maioria das suas ruas sem pavimento, e a água da chuva podia drenar solo adentro, e com isso modificar substancialmente a temperatura da nossa cidade, diferentemente de hoje com quase todas suas ruas asfaltadas, a água corre diretamente para o rio.

Leia Também:

-O rei, o plebeu e o futebol

-Internacionalização da Amazônia

-A famigerada “Ilha da Banana”

-O grande protesto!

-Costumes cuiabanos I

-Você conhece o cara?

-Digital influencer

Alguns desinformados criticam nossas ruas do centro histórico por serem muito apertadas.

Mal sabem que essas ruas foram feitas baseadas na inteligência portuguesa e espanhola, com um toque árabe, tais quais as do norte da África, e sul da Espanha e Portugal, justamente para amenizar o sol e consequentemente o calor.

Quem conhece as meninas do Marrocos sabe do que falo.

Essas ruas eram traçadas transversalmente ao trajeto do sol para que ao nascer, as casas da direita (por estarem a uns quatro ou cinco metros das esquerda) faziam sobra para as da esquerda, e a medida que o sol se movimentava, as da esquerda faziam sombra para as da direita.

Ao meio dia era o único momento que, o sol a pino, era projetado em ambas.

Dentro das casas cuiabanas, um jardim entre sala quartos e cozinha, suavizava a temperatura. Exemplo cristalino disso é o Palácio da Instrução, na Praça da Republica, e o Grupo Escolar Senador Azeredo, no bairro do Porto, hoje, Casa do Artesão, exemplo de construção preparada para nosso clima, totalmente diferente da construção da Escola Nilo Póvoas, um mostrengo,  mais para um forno do que para uma escola onde abriga várias crianças.

Portanto, diferentemente do pensamento de alguns, essa sabedoria luso-espanhola e árabe, foi literalmente responsável pelas casas de nossos antepassados serem muito mais frescas que as dos nossos dias.

*EDUARDO GARGAGLIONE PÓVOAS é odontólogo em Cuiabá.

E-MAIL:    eduardopovoas@outlook.com 

CONTATO:     www.facebook.com/eduardo.povoas.54