O robusto e surpreendente crescimento do PIB brasileiro anunciado pelo IBGE nesta terça feira, 3, teve um gostinho de vitória no futebol. De virada e nos últimos minutos do segundo tempo. Começamos o ano com um inexplicável otimismo por parte do empresariado e analistas econômicos de crescimento de 2,5%. Chegamos ao final de novembro com o mercado afirmando que a economia cresceria apenas 0,8%. Muito abaixo do 1,3% de 2017 e 1,1% de 2018.
O IBGE anunciou que no terceiro trimestre o PIB cresceu 0,6%, puxado pelo consumo das famílias e pelo investimento privado. Comparado com o terceiro trimestre de 2018 o crescimento foi de 1,2%, bem acima da previsão dos analistas do mercado, consultorias e departamentos de estudos econômicos dos grandes bancos. Considerando que os indicadores precedentes indicam crescimento mais forte no último trimestre do ano, espera-se que o PIB brasileiro termine 2019 com crescimento de 1,5%.
O relatório traz ainda a boa notícia de que a indústria voltou a crescer após longa letargia de 12 trimestres seguidos de queda. Sua expansão foi puxada pela construção civil e pela indústria extrativa, especialmente o setor de petróleo, óleo e gás. Mesmo tendo baixa participação relativa na formação do PIB, a agropecuária, novamente, foi o setor que apresentou maior desempenho, com crescimento de 1,3%, baseado na produção e exportação de grãos e carnes.
O entusiasmo com a eleição do presidente Jair Messias Bolsonaro e sua recém nomeada equipe econômica explicava a euforia empresarial no começo do ano. Ao findar o primeiro semestre as expectativas recuaram diante de vários tropeços, demoras e barbeiragens políticas e econômicas da administração federal para aprovação e implantação das esperadas reformas estruturais. O ambiente de negócios retomou certo otimismo após a aprovação da reforma previdenciária, inflação estabilizada em 3% ao ano e taxa básica de juros de 5%, devendo fechar o ano em 4,5%.
O aumento do consumo das famílias tem explicação na retomada lenta do emprego formal e informal, aumentando a massa salarial, preços comprimidos pela baixa demanda e liberação dos recursos do FGTS. Consumo das famílias é o indicador mais importante da atividade econômica pois responde por 65% do PIB. A construção civil beneficiou-se da melhor oferta de crédito e da redução das taxas de juros imobiliários. Foi responsável pela maior parte do aumento do investimento no trimestre.
A expansão econômica verificada nos dois últimos trimestres de 2019 alertam para o desafio de avaliar o seu impacto no cenário inflacionário. Até agora, o bom desempenho da economia foi alavancado pela atividade privada, com pouca participação dos gastos governamentais. A União, estados e municípios convivem com crônicos déficits fiscais e lutam penosamente para honrar suas despesas correntes, com baixíssima capacidade de investir. O aquecimento da atividade no período de julho a setembro não afetou os dados da inflação até o momento, devido à grande capacidade ociosa da economia. Mas a forte desvalorização do real perante o dólar americano e o estratosférico aumento dos preços da carne bovina no mercado interno acenderam os sinais amarelos do Banco Central, aumentando os níveis de cautela para o início de 2020. Não deve alterar a trajetória já traçada para o final de 2019, com mais um corte da taxa Selic na próxima semana, consolidando o longo ciclo de redução da taxa que saiu de 14,25% no início de 2016 para 4,5% ao final de 2019.
Os dados positivos reacendem os ânimos com o retorno da expansão do PIB e descortina cenário mais solar para 2020 com a retomada, ainda que lenta, do emprego, da confiança das famílias para tomar crédito e consumir e a elevação dos investimentos produtivos, ingredientes imprescindíveis para o país trilhar o caminho do crescimento sustentado.
*VIVALDO LOPES DIAS é economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em MBA Gestão Financeira Empresarial-FIA/USP CONTATO: vivaldo@uol.com.br — — www.facebook.com/vivaldolopes