É claro, um dos sintomas que mostra a independência e respeito do gênero feminino é a condição do trabalho fora de casa. Por muito anos o ambiente de trabalho fora pertenceu apenas ao homem, ficando a mulher adstrita à administração do lar.
As mulheres ficaram conhecidas como “rainhas do lar” por muitos anos, porquanto, cabia a elas os cuidados com a casa, marido ou companheiro, filhos e filhas. Administrar qualquer coisa é complicado. Nunca se agradará a todos e todas.
A nossa casa, então, é local, que, em regra, sempre deve estar impecável. No entanto, esse trabalho é invisível, e, aqueles e aquelas que optam pelos cuidados apenas de casa, acabam não possuindo esse labor tão importante reconhecido.
De mais a mais, o termo “rainha” pressupõe respeito incondicional. As mulheres são rainhas de algo mesmo?
Todavia, uma pesquisa do IPEA, divulgada no dia 19 de agosto do corrente ano, trouxe dados inesperados. De acordo com as estatísticas, 52% das mulheres economicamente ativas sofrem violência doméstica. De outro norte, 24,9% das mulheres que não compõe o mercado de trabalho sofrem violência doméstica e familiar. O mesmo estudo mostrou que 43,1% das violências ocorrem dentro do ambiente doméstico, enquanto que 36,7% dos casos se dá em via pública.
Mais uma vez, com os elementos de informação, nota-se que trabalhar fora de casa é o que realmente favorece à independência feminina. As estatísticas acabam por não ofertar a realidade, pois, fica evidente que o desrespeito e violência sempre foram maior com aquelas que permanecem apenas no trabalho doméstico.
A pesquisa mostrou que as mulheres conseguem sair com mais facilidade de um relacionamento tóxico em sendo independentes financeiramente. Claro, esse número acaba por ser maior, se elas possuem condições de abandonar o malfadado ciclo da violência doméstica. Porém, o fato do número ser menor entre as “do lar” não é confiável, tendo em vista a “impossibilidade” de abandonar esse tipo de relacionamento para algumas.
Na divulgação, um trecho da mensagem do IPEA: “Uma possível explicação é que, pelo menos para um conjunto de casais, o aumento da participação feminina na renda familiar eleva o poder de barganha das mulheres, reduzindo a probabilidade de sofrerem violência conjugal. ”
E que dúvida? Lógico que o temor toma conta das vítimas que possuem filhos e filhas, e não se capacitaram para o trabalho. Em caso concreto do Núcleo de Defesa da Mulher, determinada vítima esperou desesperadamente por dezembro de 2019. A narrativa dela é que precisa ir embora daqui ao encontro da sua família em outra unidade da federação brasileira, e que está sofrendo todos os tipos de violência doméstica e familiar. O que a prende? A filha mais velha a terminar o ensino médio. Por ser muito estudiosa, a filha ganhou bolsa de estudo em determinada escola particular da capital. A mulher, por não ter se capacitado para o mundo laboral, não poderia no momento ofertar uma escola melhor para a descendente. Assim, está à espera da conclusão do estudo pela menina em colégio particular, para poder sair da violência.
Neste caso concreto, essa vítima afirmou que jamais continuaria em relacionamento com o agressor se tivesse como sustentar a sua filha.
Sem qualquer medo de errar: a independência feminina é uma das principais formas de sair da violência doméstica.
*ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS é defensora pública no Estado de Mato Grosso