Durante muitos anos, flertei com o Partido dos Trabalhadores (PT), até que recentemente resolvi me filiar e convidar outras pessoas para me acompanhar, sendo que várias atenderam prontamente o convite, algumas alegando aceitar por confiar em mim.
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Ocorre que nesse curto espaço de tempo, porém intenso, constatei uma grande diferença entre o discurso e a prática, o legado lulista e o que se tornou parte do PT, com exceção dos militantes de base, esses, quase todos, comprometidos com o projeto originário e o bem da população.
Contudo, os núcleos de base praticamente foram extintos e substituídos pelas instâncias partidárias, deixando de ter uma organização horizontal, para aderir a autoritária forma vertical dos partidos oligárquicos brasileiros, sendo comandado não mais pelo conjunto da militância e organizações sociais, e, sim, pelas cúpulas e pelos caciques.
Vozes divergentes logo entram na mira do pelotão de fuzilamento, que trabalha para manter uma disciplina militar, com os princípios da obediência e hierarquia, objurgando as minorias e a diversidade, seja no grito, seja na fraude.
O PT precisa fazer uma profunda autocrítica, não responsabilizar apenas os outros por ter chego aonde chegou, o lulismo não pode alienar a capacidade de se reinventar e olhar para o presente e futuro, não só o passado, o partido precisa ser re-fundado e pegar na mão do povo de novo, com a humildade de quem nada sabe mais do que a pessoa humana mais calejada e explorada do nosso país, sem pedestais e paredes invisíveis, construídas por quem só tem a pretensão de se eternizar no poder e ver seus interesses fisiológicos satisfeitos, como lobo em pele de cordeiro, gente sem comprometimento ético e ideológico, infiltrada na sigla, para garimpar o patrimônio construído em nome do povo brasileiro, na maior agremiação de esquerda da América Latina, com um dos líderes mais populares do planeta.
Ousei ser uma voz destoante, logo que me deparei com o abominável, inclusive ocupando espaço na imprensa estadual, como no caso do enfrentamento às fraudes ocorridas no processo eleitoral dos diretórios, nas retenções de atas, e outras investidas em defesa da verdade e da justiça, que, porém, não tomaram o noticiário, no entanto inundando os grupos de WhatsApp.
Estive vivo e presente para testemunhar, no Congresso Estadual do Partido, aprovarem uma Moção de Repúdio aos denunciantes dos crimes de fraude e ocultação de documentos realizados por atacado, todos comprovados por farto acervo probatório, mas não contra os criminosos que praticaram tais atos. Quase como um salvo-conduto aos delinquentes de plantão, ao establishment, que vem corroendo a coesão do PT em torno de pautas programáticas e bandeiras progressistas, em troca do pragmatismo e hipocrisia.
Não sou Raul Seixas, sem nascer há dez mil anos atrás, porém vi a presidente nacional totalizar os votos fraudados, com recursos pendentes, determinando que o resultado era imutável, mesmo que comprovado que um morto votou, por exemplo, o voto dele valeu.
Então, lamentavelmente, depois de tantos anos defendendo o PT, mais do que muitos filiados, mesmo sem filiação:
mesmo reconhecendo o extraordinário trabalho realizado sobretudo na área social e um maior respeito pelo Estado de Direito e pela Democracia, do que o desastroso e fascista governo de agora; mesmo convencido de que Luís Inácio Lula da Silva foi o melhor presidente que o país teve, perseguido e preso injusta e ilegalmente, tornando-se um preso político;
mesmo tendo clareza de que a ex-presidente Dilma não cometeu crime de responsabilidade e seu impeachment foi um golpe;
sinto que há algo de podre na Dinamarca, e o Brasil precisa mudar, a começar pelo PT.
Não darei uma de Dom Quixote ou Grilo Falante, por um lado, prepotente, em achar que sozinho partirei para a esgrima com toda máquina partidária, ou ingênuo, em achar que pulando e falando sozinho vou converter o partido ao socialismo, seus valores e princípios, quando hodiernamente mais se aproxima do neoliberalismo.
Portanto, para manter coerência à minha trajetória e não ser cúmplice do atual estado de coisas, pouco diferente daquilo que o partido crítica na direita, mantendo em mim o espírito e sentimento petista, do primeiro amor, diferente do bolsonarismo que tomou conta das mentes e corações de muitos correligionarios, principalmente daqueles que vendem a alma pelos cargos de direção, deixo aqui registrada para os anais a minha impressão. A história dirá quem foi coerente e ficou do lado certo dela.
Espero uma saída política altiva para essa mutação genética, todavia, se for litigiosa, estou pronto para o embate, principalmente contra calúnias, injúrias, difamações e denunciações caluniosas, de quem tenta criminalizar quem tem o destemor de tocar o dedo na ferida e expor as coisas como elas realmente são. Com medo de botar a cara, membros de alto escalão usam outros de patente mais baixa, de diretórios do interior, porém alinhados com a falsidade e tirania, para fazer o trabalho sujo, o teatro dos palhaços e dos horrores.
Não irei me intimidar com ameças, muito menos acusações falsas. Derrubarem a máscara de cada uma delas e de seus maquiavélicos inventores, de quem trama contra a honra e dignidade de quem tem uma longa trajetória conhecida por todos, de luta nos marcos dos limites civilizatórios, do Estado Democrático de Direito e dos Direitos Humanos.
Lutarei para que o PT não seja sequestrado, e, sim, preservado aos seus verdadeiros petistas, pessoas simples e trabalhadoras, artistas e intelectuais de fibra, seres humanos solidários aos demais seres humanos, à liberdade e igualdade.
*PAULO LEMOS MELO DE MENEZES é advogado e filiado ao PT; professor universitário atualmente de Filosofia-Geral e Filosofia-Jurídica, articulista de opinião e palestrante; só que, principalmente, alguém que não deixou o cérebro descer para o intestino.
E-MAIL: paulolemosadvocacia@gmail.com