A possibilidade de uma segunda chance na vida e uma fixação pelas tramas de viagem no tempo impulsionaram a criatividade do diretor Bruno Bini, responsável por roteiro e direção do longa-metragem Loop, o filme da noite de hoje, na mostra competitiva do 52º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. “Acho que todo mundo, num exercício até automático, imaginou voltar no tempo para mudar algo. É impossível passar pela vida sem um arrependimento, sem uma vontade de mudança”, comenta o diretor nascido em Cuiabá. Todo filmado na capital mato-grossense, por um mês, em 2018, Loop segue a linguagem empregada nos curtas anteriores de Bini, e acata estilo bem narrativo.
Loop fala do amor visto por um homem interpretado por Bruno Gagliasso. “Eu não tenho vergonha de demonstrar sentimentos, então acho que isso se reflete no roteiro do filme. O personagem protagonista, Daniel, se entrega profundamente a uma paixão. Mesmo introspectivo, ele ama de diversas formas. Loop fala do amor de um homem e de uma mulher — na jornada, ele acaba se reencontrando. O filme reconta algo da história dele”, comenta o cineasta. A trama se desloca, numa rota de fuga e negação, a partir da morte da namorada de Daniel, Malu (interpretada por Bia Arantes).
Acompanhar as idas e vindas no tempo da história poderia gerar confusão? “Não precisa ter medo do filme, mas ele exige boa dose de atenção de quem está assistindo. Por si só, não tem como ser uma história linear. Seria impossível. Passamos por algumas épocas”, explica o diretor. O amor é plural na telona, alcançando amor de mãe e filho, de irmão e irmã. “Daniel acaba confrontado com uma série de sentimentos que quase o sobrecarregam”, conta Bini. Branca Messina faz o importante papel de Simone, irmã de Daniel, enquanto Roberto Birindelli vive o papel de um delegado que investiga a morte de Malu. Nikolas Antunes (de A vida invisível) e Zé Carlos Machado completam o elenco.
A preparação do ator Bruno Gagliasso foi especialmente afinada, sob a supervisão de Fátima Toledo (Cidade de Deus e Tropa de elite). “Bruno estava recém-saído do longa Marighella, no qual fez o pesado e difícil papel do delegado. O Daniel de Loop é o avesso disso — dócil, suave e leve”, comenta Bini. Essa linha serena acompanha o diretor empolgado, na primeira vez em que é destacado para o festival, no Cine Brasília. “Calmo, mesmo, eu não estou. Claro que não! Quero saber que espaço a história vai encontrar no coração das pessoas. Mas acho que vou encontrar apaixonados por cinema. Quero encontrar meus iguais”, comenta.
Antes dos atuais 41 anos de idade, nos bastidores do cinema, Bruno Bini havia encontrado mentores e parceiros cinematográficos do porte de Beto Brant (O invasor) e Geraldo Moraes (morto há dois anos). “O Geraldo foi uma espécie de padrinho do cinema de Mato Grosso, desenvolveu muitos cursos de cinema e levou o carinho de muita gente. Eu tenho uma relação bacana com Brasília, topei com muitas equipes daí, em trabalhos com filme e publicidade”, explica. Implementos no orçamento inicial do atual longa Loop (a atração do festival) elevaram as possibilidades e a responsabilidade do diretor estreante, que administrou R$ 3 milhões para a produção.
Filme noutra dimensão
“O conceito do filme era bem menor, inicialmente. Houve a conquista de edital local, de arranjo regional e o acréscimo do dinheiro de patrocínio da Globo Filmes. Passou pela seleção deles e foi escolhido para coprodução. Isso redesenhou o filme — que tomou outra dimensão. Pela nova vitrine, tivemos ampliação da viabilidade comercial. Com maior equipe e elenco de peso”, observa Bini. Outra vantagem foi a entrada de Fernando Meirelles, como produtor associado. “Foi maravilhoso trocar ideia com ele. Meirelles ajudou muito o filme, com toda a generosidade. Interferiu, positivamente, no processo de direção, de produção e no roteiro. Foi criado um campo criativo muito fértil”, conta.
Loop, repleto de camadas temporais na trama, foi rodado no ano passado. Hoje, Bruno Bini estará no Cine Brasília. “Será a melhor coisa. É um dos festivais mais importantes do Brasil. Para mim, soa como uma felicidade e um privilégio apresentar o filme, neste momento pelo qual passamos”, avalia. Bini conta que Loop não ficou imune à paralisação dos trabalhos da Ancine (na instância do TCU).
“Foram momentos bastante tensos. Estávamos finalizando o longa, em São Paulo, sem entender nada — tudo assustador. Parar um mercado de cinema que está dando muito resultado, revertido em patrimônio cultural, com prêmios recebidos, lá fora, em festivais como os de Cannes e Veneza? Cinema traz ganhos econômicos, gera emprego e renda e se autossustenta. Um ataque ao audiovisual e à cultura é um tiro pé. A produção de cultura é uma indústria, economicamente viável e profundamente importante”, conclui.
Serviço
Loop
Exibição, nesta quarta-feira (27/11), às 21h (no Cine Brasília, 106/107 Sul), do longa de Bruno Bini, antecedida pelos curtas Angela e Rã. Ingressos a R$ 20 e R$ 10 (meia). Não recomendado para menores de 12 anos. Nesta quarta-feira (27/11), às 20h30, com entrada franca, exibição nos complexos culturais de Samambaia e Planaltina, além da apresentação no IFB Recanto das Emas.