Outro dia, pensava sobre o Amor. Há um sem números de livros sobre o assunto. Lembrei-me da mitologia grega: Eros e Psiquê – em nosso bom português – o Amor e a Alma. Ele, mortalmente ferido por sua própria flecha; ela, perdidamente apaixonada por alguém que jamais vira.

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Depois de muitos desencontros, juntos estariam para sempre o Amor e a Alma. Não deixa de ser uma estória bonita, mas é mítica. Aí, veio-me à mente Tristão e Isolda, quanto sacrifício em nome da paixão. Não foram poucos os desafios e nem a inveja e a maldade alheias. Ao final, ambos perecem e imortalizam, na literatura, o amor ardente, como diria Gonçalves dias sobre o ato de amar: “ té capaz de crimes”. Rememorando, achei-a exacerbadamente triste. Lembrei-me da fantasiosa história entre Camões e Dinamene: Os Lusíadas ou ela… (teria pensado o poeta). Talvez tenha carregado para sempre o martírio da cruel escolha. Mas ninguém melhor que Luís Vaz de Camões para imortalizar a própria tragédia: ”Alma minha gentil, que te partiste / Tão cedo desta vida, descontente / Repousa lá no céu eternamente / E viva eu cá na terra sempre triste. / E se lá no assento eterno, onde subiste, / memória desta vida se consente, / Não te esqueças daquele amor ardente / Que já nos olhos meus tão puro viste. / E vires que podes merecer-te / alguma cousa a dor que me ficou / Da mágoa, sem remédio, de perder-te. / Roga a Deus, que os teus anos encurtou, / Que tão cedo de cá me leve a ver-te,/ Quão cedo dos meus olhos te levou”. Encontrei, entre o mito com final feliz e a realidade trágica, um equilíbrio: meu (saudoso) pai e minha mãe.

Vejo-os, sentados na varanda, mudos, mudos por horas. Vez em quando seus olhares cruzam-se, abre-se um breve sorriso, quase imperceptível, cheirando cumplicidade. A sadia cumplicidade que apenas o passar dos anos traz. Contemplo-os vagarosamente e sinto-os amainados pelo tempo. Palavras suaves e ocasionais (penso que lhes não necessitam mais falar e falar…). Mas o que me maravilha é a ausência de arroubos, parecem ungidos por uma castidade promíscua, por uma serenidade erótica, por um desejo calmo, maciço e permanente.

Mas por que estou relatando isso, se ainda me sinto jovem e todo meu ser é passional? Talvez, por que saiba que um dia amarei assim manso lago azul. Hoje, sinto ciúme, mágoas e paixões repentinas. O amor exaspera-me e violenta-me…

Espero que, um dia, eu ame tanto que possa ter minha sede saciada, minha angústia aplacada, minhas incertezas dirimidas apenas com tua presença – quase ausência – ao meu lado, teu jeito cotidiano e renovado como as estações.
Sorrirei e direi, com os olhos da alma: – Eu te amo.

*SÉRGIO CINTRA  é professor de Redação e de Linguagens em Cuiabá. 

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