O mês de novembro marca uma série de ações relacionadas ao Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro. Alguns militantes do Movimento Negro denominam este mês de “novembro negro” pois trata-se de ações simbólicas – de resistência – que são necessárias para desconstruir os estereótipos criado contra (sobre) os negros. Por outro lado, também se tem a ideia de valorizar as raízes africanas, não como pertencentes aos negros escravizados que um dia foram, mas como mananciais civilizatórios que são as bases do que se pode chamar hoje por “povo brasileiro”.

Quando se fala em “questão racial negra” no Brasil, é de bom-tom referenciar-se a duas categorias, ou, dois conceitos-chaves – consciência negra e diversidade de raças – que são elementos essenciais para se pensar, historicamente, a constituição do povo brasileiro. Consciência, enquanto um conjunto de arquétipos, dos quais se permite refletir sobre o papel do negro na sociedade, e diversidade de raças, enquanto componentes étnico-sociais que forma nossos corpos, nossas experiencias e “determina” a forma como estabelece as noções de pertencimento étnico em nossa sociedade.

Diferentes de outros países, como Estados Unidos e na Europa, o racismo no Brasil é uma experiência particular. O país esteve imerso, por quase 400 anos, dentro de legislações que transformavam indivíduos em escravos. Porém, nunca houve uma Lei pós-abolição que dissesse que essas pessoas eram inferiores ou que colocasse o negro em uma situação de exclusão. Essa suavização em relação a condição do negro pós-abolição permitiu-se construir um imaginário social e uma falsa percepção de haver no país a ideia de “democracia racial”.

O conceito ideológico da democracia racial, discutido e contestado amplamente, parte-se da ideia de que não existe uma discriminação oficial, logo então, o Estado não discrimina ninguém. O que é inverídico, pois os mecanismos e dispositivos de silenciamento do corpo negro é uma realidade do cotidiano brasileiro. O racismo, constitui-se, enquanto um componente estrutural, que determina e orienta a constituição de políticas públicas, a separação e o encarceramento seletivo de corpos negros, estrutura as narrativas literárias e fundamenta os discursos “humanistas”.

O racismo é praticado, por meio dos mecanismos de controle racial, e esses mecanismos são acionados, quando se tem o tratamento diferenciado do negro em relação aos brancos nas esferas públicas e nos espaços institucionais público-privados.

Quando os corpos negros tem: a menor escolaridade, o menor acesso a saúde, o menor salário, menor participação em cargos de poder, maior taxa de desemprego, são os que morrem mais cedo e o que tem o maior índice de encarceramento no país. Tem-se aqui, o que alguns autores chamam de necropolíticas, ou políticas de mortes, que produz verdadeiros “genocídios de corpos negros” em nossa sociedade.

Desta forma, a crítica em relação a ideia de democracia racial, se sustenta ao se verificar que o conjunto de práticas racistas existentes, transmite a ideia de controle, de supervisiomento dos corpos negros em determinados espaços. E para esses mecanismos de silenciamento, os corpos negros – marginalizados e periféricos – transmite e carrega consigo as marcas indeléveis do seu passado histórico, da sua herança escravista.

*RODRIGUES DE AMORIM SOUZA é cientista social e integrante do Núcleo Interinstitucional de Estudos da Violência e Cidadania (NIEVCI/UFMT).

Quando se fala em “questão racial negra” no Brasil, é de bom-tom referenciar-se a duas categorias, ou, dois conceitos-chaves – consciência negra e diversidade de raças