Feliz a cidade com o dinamismo e a pujança de Cuiabá, viçosa, rica em oportunidades de desenvolvimento e de elevação da qualidade de vida de sua população. Mas, também em problemas. São os tais ônus e bônus da vitalidade urbana.

As cidades vivas geram aumentos de demandas em todas as áreas, e muito especialmente na mobilidade urbana, onde cresce o número de pessoas e de veículos nas ruas, surgem novos bairros e polos geradores de tráfego, exigindo de seus administradores providências visando garantir a fluidez indispensável com segurança e conforto.

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Como uma criança saudável em crescimento exige dos pais, no tempo certo, roupas, sapatos, e tudo o mais em tamanhos crescentes, assim também uma cidade em desenvolvimento.

É o caso de Cuiabá que, sem uma estrutura técnica permanente para o  planejamento urbano contínuo, tem sua prefeitura sempre correndo atrás, buscando superar os gargalos urbanísticos surgidos a cada momento, hoje com obras de vulto como os viadutos na Beira-Rio e na Archimedes Lima, passarela na Rodoviária, renovação do sistema semafórico, recapeamento asfáltico e mesmo obras menores, como a ligação da travessa Monsenhor Trebaure à Marechal Deodoro.

Agora a discussão é o colapso funcional da rotatória do Círculo Militar, causado pelo incremento natural do trânsito de veículos acrescido pela instalação de um grande polo gerador de tráfego nas proximidades.

Quanto à rotatória do Círculo Militar, após o aparente insucesso da solução semafórica, o prefeito acena com a construção de uma trincheira no local, o que seria uma solução emergencial importante. Porém, o carro é um bicho danado. Se um conflito pontual é resolvido, de imediato ele volta ao local até atingir de novo os limites do desconforto e, logo, novo colapso. A trincheira ou, no caso, um viaduto estaiado, é uma solução emergencial necessária como uma ponte safena em um coração com problema circulatório. Melhor que tratar a doença de um paciente é tratar o paciente doente, e com a cidade deve ser igual. Ainda que as soluções emergenciais sejam necessárias, o ideal é tratar a cidade com problemas, antecipando-se a eles.

Soluções urbanísticas pontuais exigem sempre uma visão ampliada dos problemas pois podem estar em intervenções também mais amplas. No caso da rotatória em questão a solução mais ampla está em reduzir a demanda de tráfego para ela, criando alternativas de circulação.

Por exemplo, a Lei da Hierarquização Viária de Cuiabá já em 1999 previa a extensão da Avenida Beira-Rio à oeste (VEBR-O), fazendo sua ligação com a Avenida Antártica, uma via para auxiliar a Miguel Sutil nas demandas da Região Oeste da cidade.

Também, lá por 2005 surgiu o projeto do Rodoanel com objetivo de aliviar a Miguel Sutil do trânsito rodoviário. São obras portentosas, mas necessárias, que a par de permitir a melhoria do trânsito em toda a cidade, impactaria favoravelmente no volume de tráfego na rotatória do Círculo Militar.

Uma trincheira ou viaduto na rotatória seria uma solução emergencial, um curativo importante, e que ampliaria a viabilidade de uma proposta que defendo no mínimo desde 2009 e que seria uma nova rotatória na interseção da Ramiro de Noronha (sub-utilizada), quase a meia distância entre as rotatórias do Santa Rosa e a do Círculo Militar.

Outra rotatória, outro problema? Certamente depende de estudos mais aprofundados, mas, ela permitiria a ligação da Miguel Sutil com a Avenida 8 de Abril (sub-utilizada), e com XV de Novembro através da Thogo Pereira, bem como o acesso ao novo shopping sem demandar as rotatórias do Santa Rosa e do Círculo Militar, aliviando-as. Outra proposta de efeito pontual, mas também para toda a cidade.

*JOSÉ ANTONIO LEMOS DOS SANTOS é arquiteto e urbanista; é conselheiro licenciado do CAU/MT, acadêmico da AAU/MT e professor universitário aposentado.

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