Nos últimos vinte e poucos anos fomos governados por partidos políticos de centro-esquerda – como é o caso do PSDB do Fernando Henrique – e de esquerda com o PT do Lula e da Dilma. Houve o Temer neste período, mas não conta porque após o episódio da gravação do Joesley Batista ele deixou de governar pra se defender das acusações da oposição.

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À medida que esses governos foram fracassando com a teimosia de distribuir para o povo o dinheiro que não existia e a crise financeira atingia pontos alarmantes, crescia em parte da população o desejo de experimentar a receita da direita que tende a ser mais austera em relação aos gastos públicos. Não que a visão direitista condene investimentos no bem estar das pessoas, mas porque é insustentável gastar mais do que arrecada. A esquerda, ao contrário, primeiro gasta depois tenta tapar os buracos do orçamento.

Presidente Jair Bolsonaro (PSL)

Havia em 2018 uma grande decepção com as políticas de esquerda e uma revolta diante da exposição da corrupção, principalmente do PT que estava no governo, feita pela Lava-Jato. Neste momento a população parecia suficientemente madura para experimentar um governo de direita.

Nesse caldo de cultura apareceram as ideias do Paulo Guedes, experiente e consagrado economista com posições liberais, rapidamente encampadas pelo candidato que a população viu como a única possibilidade de derrotar a esquerda, totalmente vinculada com a roubalheira.

Só que para termos as ideias liberais do Guedes tivemos que engolir os pensamentos extravagantes do único candidato que apresentava reais condições de derrotar a turma do Lula e da Dilma.

Eleito, o Presidente deu ao agora ministro liberdade para implementar seu pensamento econômico. Assim o País conseguiu algum sucesso, mas muito menor que o necessário e possível.

O problema é que as propostas da equipe econômica precisam de aprovação do Congresso que demandam grandes articulações políticas, ignoradas pelo Presidente. Este, além de não ter se empenhado, criou uma série de atritos com os parlamentares, citando uma tal de “velha política”, que acabou incorporando quando foi inevitável liberar as Emendas Parlamentares. Por pura inépcia política do Presidente deixamos de crescer os 2,5% previstos no começo do ano, que foram reduzidos a menos de 1%.

Além deste prejuízo imediato pode haver um mal posterior: como a população que votou nele nunca teve a experiência de um governo liberal, está associando indevidamente seu jeito bronco e agressivo aos valores da direita. E pelo jeito não está gostando.

É necessário separar o bolsonarismo da direita. Esta – a direita representada por Guedes – não tem nada a ver com o ódio propositadamente espalhado no país pela família presidencial; não ensina a considerar como inimigos os que pensam diferente; não estimula o uso de palavras chulas, grosseiras e vulgares para referir-se aos adversários. Também não classifica os esquerdistas como bandidos, patifes ou safados; não exige bajulação da imprensa e nem acha que jornalistas são canalhas.

Se o governo Bolsonaro possibilitar a volta da esquerda – agora realimentada pela liberdade provisória do Lula – será o responsável pelo descarte prematuro do esperado liberalismo, sem ao menos tê-lo entendido.

*RENATO DE PAIVA PEREIRA é empresário e escritor em Cuiabá.

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