“Viagem à Lua”, de Mèlie, filme mudo do início do século XX, atraiu multidões às “salas” de cinema da época. Isso ocorreu não só pela ideia inusitada mas também pela inovação tecnológica relacionada à captura do movimento. De salas improvisadas e películas de alguns minutos a espaços suntuosos e super produções; todavia, ao se transformar em indústria, o cinema passou a ser regido pelo mercado. Nesse contexto, não restam dúvidas que, ao democratizar o acesso à Sétima Arte, o Brasil não só melhorará diversos indicadores sociais como também aumentará a capacidade de reflexão das pessoas.
Obviamente, se a população tem acesso a espetáculos cinematográficos, pressupõe-se que os demais indicadores de qualidade de vida sejam, no mínimo, satisfatórios. Assistir, por exemplo, ao “Coringa” – lançado recentemente em pouquíssimas cidades brasileiras – o espectador revela bem mais que o interesse pelo tema “depressão”; antes, expõe seu bem-estar, sua condição socioeconômica para desfrutar daquele filme. Assim, ir ao cinema indica que outras necessidades básicas já estejam supridas.
Além disso, cinema é Arte e como tal gera, necessariamente, reflexão. Chaplin, em “Tempos Modernos”, discute a desumanização. Na mesma seara, o distópico “Ella”analisa a relação homem x robô: filmes produzidos em épocas distintas e com recursos tecnológicos díspares e, ainda assim, capazes de provocar questionamentos na sociedade.
Portanto, indiscutivelmente, é preciso garantir a descentralização desse veículo cultural aos cidadãos dos 5 570 municípios do país. Cabe ao “Ministério” da Cultura criar um programa que facilite a proliferação de salas de cinema nas pequenas cidades, isso se dará por meio da distribuição de filmes e de crédito subsidiado para a construção desses espaços – aliás, os mesmos deverão ser multiuso – com a finalidade de ampliar o público “luz, câmera, ação”, fazendo com que tanto George Mèlie quanto Glauber Rocha (“Terra em Transe”) não sejam apenas uma “fotografia na parede”, mas uma realidade no cotidiano dos brasileiros.
*SÉRGIO CINTRA é professor de Redação e de Linguagens em Cuiabá.
CONTATO: sergiocintraprof@gmail.com.br
Obs.: o texto acima é a reprodução quase fidedigna da minha redação no Enem. Apesar da 30 linhas, achei o espaço insuficiente para argumentar adequadamente. Com certeza, este escriba não possui a capacidade de síntese.
Obs. 2: Eu e muitos colegas consideramos o tema “Democratização do acesso ao cinema no Brasil” anacrônico, irrelevante e excludente à medida que há outras maneiras de promover acesso a filmes; que, diante da pluralidade garantida pela internet, as salas de cinema tornaram-se caras e obsoletas; que, por fatores mercadológicos, ir ao cinema é privilégio de uma minoria socioeconômica. Assim, o Inep perdeu a grande oportunidade de trazer à baila um tema mais relevante para, diretamente, mais de cinco milhões de brasileiros e, indiretamente, para toda a nação. Sintetizando: um tema “nem… nem..” para perpetuar um povo “nem… nem…”.