Ainda, não comi caviar, mas, dizem que é uma iguaria dos Monges; agora, bolo de ova de pacú? Até doce, e até sonho em levar uma Cozinha Tacurú para o “Resorte” Malai e fazer pratos de pacú como antigamente.

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O aprendizado com o nosso peixe veio no início da década de 70 do século da conquista da paz e da democracia, quando nosso Velho Zagueiro Lourival chegava próximo ao nosso “quarto triplo”, como na maioria das casas da vizinhança do meu velho Porto, e dizia: amanhã vamos acordar mais cedo para esperar seo Gonçalo Baixinho carrinheiro de peixe e comprar nosso pacú para o almoço.

Eu já nem dormia mais, e quando dava cinco e meia já estávamos acordados. Quando seo Baixinho apontava na esquina da 15 de novembro em sentido contrário do que é seu trajeto hoje em dia, também, já nos encontrávamos à porta, à espera.

 Nosso Velho Zagueiro fazia questão de nos mostrar como se reconhecia um bom pacú: guelras (brânquias) avermelhadas, corpo e rabo do peixe com a carne firme, cheiro, etc., o que, muitas vezes, nem precisava, por que o pacú ainda estava com o opérculo em movimento, sinal de que ainda estava vivo.

Lembro que nosso pai sempre escolhia um boi d’água, como dizia meu finado tio Lídio, daqueles baitéla, que mal cabia na gamela.

Aprofundar nos problemas e soluções para essa decisão em proposta, requerer-se-á um amplo debate e participação efetiva de universidades, estado, municípios, comitês de bacia, colônias de pescadores, representantes dos diversos setores envolvidos
Quando vinha vivo que era o problema, pois, minha irmã “Janji”, queria porque queria reanimar o bicho numa bacia d’água, mas, nossa guerreira e heroína Aldinha já estava ali pronta para limpar o peixe com nossa ajuda para jogar água e pegar a laranja azeda e passar no peixe.

Eu, particularmente, nesse dia, nem prestava atenção na aula, só pensando no almoço, e é meu prato preferido até hoje.

Até aqui, uma parte da história em seu devido tempo, porém, cadê nosso pacú em cambadas nos dias de hoje?

Verdade é, que a população aumentou, a divisão do trabalho foi quebrada (pescadores, transportadores do peixe, comerciantes atacadista no mercado do peixe e vendedores ambulantes-carrinheiros de petche) e o peixe ficou bem menos acessível à grande parte da população.

Os motivos dessa redução sabemos bem: pesca tradicional aumentada por profissionais, amadores e lazer; pescas predatórias; consumo seletivo; alterações naturais e antrópicas nos leitos e calhas dos rios; dentre outros.

Todavia, uma grande solução implementada para amenizar o problema foi a implantação da proibição da pesca durante a piracema nos rios de Mato Grosso a partir de 1993.

Findou com meu bolo de ova, mas nos vai garantir peixe para o presente e para nossos pósteros.

Como disse, o problema da diminuição dos cardumes e estoques de peixe foi amenizado. Todavia, a fiscalização há de ser mais atuante em sintonia e em ação conjunta com as comunidades de pescadores, para acabar de vez com a pesca predatória antes e durante a piracema.

Entretanto, há a necessidade, também, em ter um controle nas pesagens dos peixes comercializados diretamente em cada colônia de pescador, além do controle nas guias de declaração de transporte e estoques de peixes adquiridos.

A ideia, em projeto de lei, de estender a piracema por 5 cinco anos seria uma ação louvável, caso essas ações já estivessem em prática aceitável. Além de mais, zelar pelo rio Cuiabá é uma tarefa inadiável, a fim de que toda essa cadeia produtiva e de comercialização geradora de renda, não seja socorrida com seguros defeso que não ultrapassam o salário mínimo, que ficam muito, mas, muito abaixo do que os ribeirinhos e estabelecimentos dos mais variados ramos auferem em suas diversas atividades econômicas.

Aprofundar nos problemas e soluções para essa decisão em proposta, requerer-se-á um amplo debate e participação efetiva de universidades, estado, municípios, comitês de bacia, colônias de pescadores, representantes dos diversos setores envolvidos, etc., para assim, conhecer toda essa estrutura produtiva vigente em torno da pesca que, sem dúvida, reflete na conduta dos seus agentes e no seu desempenho técnico, econômico e ambiental.

Portanto, como propõe o engenheiro eletricista Dr. Ivo Leandro Dorileo, será fundamental pensar o uso dos recursos hídricos a partir de um planejamento integrado das bacias e recursos hídricos junto à sociedade visando seus multiusos, porque, somente assim, prevalecerá e será preservado a qualidade da nossa água e do nosso bem-viver presente e futuro.

*ERNANI LÚCIO PINTO DE SOUZA é cuiabano, economista do NIEPE/FE/UFMT, mestre em planejamento do desenvolvimento pela ANPEC/NAEA/UFPA. Foi vice-presidente do CORECON-MT

E-MAIL: elpsouza@ufmt.br