Nesta terça-feira comemoramos os 50 anos de uma das maiores revoluções conseguidas pela humanidade, meio século a partir do dia 29 de outubro de 1969 quando se deu a primeira transmissão de dados entre dois computadores remotos, considerada como o primeiro e-mail na face da Terra.
Era para ser a palavra LOGIN, mas no meio da transmissão deu “pau” no computador receptor e só foi LO, um pedaço da palavra que se pretendia mandar. Mesmo assim, um dos maiores sucessos da história do homem. Nasceu a Internet, hoje parte indissociável da vida dos homens, impossível pensar o mundo atual sem ela.
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Lembro lá pela década de sessenta que os jornais “de fora”, em geral do Rio de Janeiro, só chegavam a Cuiabá ao final das tardes pela antiga VASP e eram vendidos em uma única papelaria que ficava na Praça da República. A fila começava a se formar cedo e quando chegavam os jornais era aquele empurra-empurra para cada um pegar o seu.
Nas segundas-feiras a afluência era muito maior, pois os jornais traziam um caderno esportivo com as reportagens sobre os jogos do domingo, dia anterior, com as fotos dos lances dos nossos times, até então só imaginados pela narração dos “speakers” e comentaristas. Só no mês seguinte iríamos ver em filmes trechos do jogo no “Canal 100”, noticioso que antecedia às sessões do Cine Teatro Cuiabá.
O mundo tinha centro e periferia, e nós éramos periferia da periferia, ou “o fim do mundo” como falavam, situação que mais valoriza figuras como Rondon, Dutra e outros que, apesar das dificuldades, conseguiram vencer nos grandes centros.
A dificuldade não era só quanto aos jornais, mas em relação a quaisquer novidades em todos os campos. O rádio era a grande conexão. Para fazer um interurbano a pessoa tinha que esperar às vezes por um dia inteiro, ou até mais para conseguir a ligação. Quando ainda dava aulas alertava sempre os alunos que hoje só é periferia quem quer, pois a Internet, a Grande Rede sem cabeças, acabou com essa dicotomia cruel.
As informações estão disponíveis on-line e de graça na grande maioria dos casos. Sem sair de casa você pode fazer cursos ou compras em qualquer lugar do mundo, acessar livros, filmes ou shows e ficar a par de tudo o que está acontecendo praticamente na hora e no mundo inteiro.
O homem original nasceu com cabeça, tronco e membros, evoluiu para cabeça, tronco e rodas, depois as rodas ganharam asas e agora somos cabeça, tronco e Internet. Com ela podemos estar e conversar com pessoas em diversos lugares do mundo sem sair do lugar, temos as respostas de tudo na palma das mãos e temos amigos com os quais conversamos todos os dias sem muitas vezes sequer saber se é homem ou mulher, idoso ou jovem, branco ou negro, alto ou baixo. “Disbodyment” é uma palavra nova que descreve bem a situação da “descorporização” do homem e das coisas. Grandes lojas e agências bancárias, por exemplo, tiveram seus “lay-outs” redefinidos e reduzidos. Antes da Internet cada pessoa era praticamente a ir a uma agência bancária ao menos 2 vezes por semana para procedimentos hoje feitos pelos celulares.
Minha geração teve o privilégio de viver antes e depois da Internet e da computação de um modo geral. Quem não teve que datilografar um texto numa máquina de escrever não pode avaliar corretamente o fantástico que é um editor texto nos dias de hoje. Quem não viveu o mundo anterior à Internet não consegue uma avaliação correta do milagre do mundo de hoje. E muito mais coisas estão vindo. Tenho inveja dos jovens que viverão o que ainda virá. Mas também receio por eles: a onipresença e a onisciência com as quais hoje flertamos está a um passo da soberba presunção de onipotência.
*JOSÉ ANTONIO LEMOS DOS SANTOS é arquiteto e urbanista; é conselheiro licenciado do CAU/MT, acadêmico da AAU/MT e professor aposentado.