Quem gosta da História como ciência, vai encontrando ao longo do tempo boas e perigosas semelhanças. Diz a filosofia da História que ela acontece como tragédia e se repete como farsa. O momento atual traz perigosas semelhanças com perigosos momentos dessa mesma História.
Não creio nessa lenda da farsa, mas é bem claro que nada se repete igual porque a capacidade humana de produzir transformações é inevitável. O homem caminha pra frente e evolui sempre, ainda que a evolução vá na direção certa. Rupturas são naturais e acabam por agir como elementos das grandes transformações.
Estudos mostram a importância destrutiva e construtiva que as duas grandes guerras do século 20 trouxeram. Todos os territórios asiáticos, africanos e europeus foram redesenhados pelo poder político, econômico e bélico resultante das guerras. As tecnologias resultantes mudaram todos os comportamentos a partir de então.
Chegamos hoje ao tempo da internet 5G, da inteligência artificial, da indústria 4.0 e de todas as possibilidades de mudanças de todos os comportamentos humanos. É algo muito maior do que qualquer revolução anteriormente imaginada. Mas precisou das duas guerras e das suas consequências pra nos trazer até aqui.
O mundo de 2020 se inicia sob o signo de grandes conflitos. O mundo inteiro está sob severa crise. Não vou enumerar nada além da crise comercial entre os EUA e China com reflexos enormes sobre o planeta. O Brasil enfrenta duas frentes. A externa pelas consequências da crise internacional. E a interna pelas suas contradições de todas as naturezas construídas por sua própria História.
Considero a crise interna muito mais grave. Ela retrata um país que se construiu usando muletas por toda a sua existência. Neste momento não há referências confiáveis. O Estado se autodestruiu. As instituições públicas se consumiram. As instituições privadas se prostituíram na relação incestuosa histórica com o Estado patrimonialista. A equação é simples: o país desnorteado, sem comando gestor ou filosófico, sem inspiração e a onda do mar crescendo na sua direção.
Esse tempo entre a construção e a chegada da onda da História retardatária, e as demandas de defesa quase inexistentes, o tempo fica escuro e pesado. Poucas vezes se viu um clima de tempestade tão perfeito sobre o Brasil. As instituições reguladoras e pensantes do país são as geradoras do tempo não-tempo.
Lamentável que esse período não seja estudado com a necessária seriedade. Ideologias consumiram o cérebro brasileiro e a construção dos cenários seguintes não tem manual pra seguir.
Aprendi na infância no interior, que ao desabrigo, as tempestades exigem abrigo urgente e seguro. Seguimos na tempestade iminente, desabrigados e desavisados…
*ONOFRE RIBEIRO é jornalista e escritor em Mato Grosso
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