No artigo anterior tratei da urgência da verticalização da economia em Mato Grosso e da necessidade do estado tratar deste assunto de forma planejada a partir de cartas da rede urbana estadual indicativas das vantagens locacionais, promovendo o balanceamento regional dos investimentos e sua otimização, tanto em retorno para o investidor quanto em benefícios para o cidadão.
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A matéria não pode mais ficar só ao sabor do feeling político, ou de interesses locais eventualmente preponderantes. Como exemplo a não repetir, lembro uma história que assisti em parte. Para manter o foco cito só os nomes de pessoas, lugares ou órgãos indispensáveis à compreensão do texto.
Foi no tempo da primeira administração Dante de Oliveira frente à Prefeitura de Cuiabá. Eu coordenava o Grupo de Trabalho do Plano Diretor de Cuiabá (GT-PDU), antecessor direto do Instituto de Planejamento e Desenvolvimento Urbano de Cuiabá (IPDU), e subia a escadaria do Palácio Alencastro quando notei dois senhores de terno descendo apressados a mesma escadaria, um deles meio gordinho, lenço à mão, gravata afrouxada, suando muito e vermelho.
Eram mais ou menos 3 horas da tarde, um calor daqueles de rachar e o senhor dava claros sinais de que passava mal. Perguntei a eles se não queriam dar uma parada ali no terceiro andar onde ficava o GT-PDU para se refrescar. Aceitaram.
Entramos na sala das pranchetas e lhes ofereci água. Já restabelecendo, começamos a conversar.
Desciam de uma das secretarias da prefeitura onde tentaram sem sucesso uma audiência com o secretário que estava em uma reunião cujo fim teriam que aguardar, segundo a recepcionista, para então ver se seriam atendidos naquele mesmo dia.
Antes estiveram no gabinete do prefeito que não se encontrava, de onde então foram encaminhados àquela secretaria. Representavam uma grande empresa que queria se instalar em Cuiabá.
Certamente houve algum problema de comunicação dentro da prefeitura pois o prefeito e o próprio secretário sempre foram muito empenhados nesses assuntos.
Não me lembro se a empresa havia tratado antes diretamente com o prefeito ou com o governador, ou com os dois, o fato é que foram primeiro ao governador ao qual renovaram o interesse da empresa em instalar em Cuiabá uma grande fábrica, localização definida por fatores como a tradicional fama do cuiabano de apreciador do produto, confirmada em pesquisas da época, a posição regional estratégica da cidade, a disponibilidade de água e mão de obra, e ser o principal polo consumidor do empreendimento.
O governador foi bem receptivo, mas lhes pediu que antes conhecessem as possibilidades do Distrito Industrial de Rondonópolis, cidade do governador. E assim foram, tratados à pão-de-ló como diziam os antigos. Voltaram no dia seguinte ao governador agradecendo a visita, elogiando a cidade que conheceram, porém, insistindo no interesse por Cuiabá.
Então o governador os encaminhou ao Chefe da Civil para o devido atendimento. Só que o Chefe da Casa Civil era de Cáceres, e todo o processo foi repetido, tendo que visitar o Distrito Industrial de Cáceres com o mesmo tratamento “VIP” da outra visita.
Na volta, agradeceram a nova visita e renovaram o interesse específico em Cuiabá, quando então lhes ofereceram uma Kombi para deixá-los na frente da prefeitura, e isso por volta das 13 horas, com o motorista gentilmente lhes indicando: – “A prefeitura de Cuiabá fica bem aí, do outro lado da praça”.
Ao final tudo deu certo com o secretário atendendo aos visitantes, a fábrica inaugurada e em pleno funcionamento, gerando emprego, renda e impostos. Claro que um método incompatível hoje, ainda mais com os estados vizinhos de olhos pragmáticos nos investimentos que Mato Grosso vem deixando escapar.
*JOSÉ ANTONIO LEMOS DOS SANTOS é arquiteto e urbanista; conselheiro do CAU/MT, acadêmico da AAU/MT e professor universitário aposentado.
CONTATO: www.facebook.com/joseantonio.lemossantos