Quase certo que conheçamos alguém quem passe o dia todo reclamando da vida. Chamo quem se comporta assim de portador da Síndrome de Hardy (personagem famoso de um desenho animado dos anos 70/80).
Para um Hardy nada foi bom, nada está bom e idealiza um prognóstico sombrio para o futuro. Triste isso. A pessoa não tem noção de que o Universo responde justo o que se emite a ele. A consequência parece ser que o Hardy tem razão quando diz que nada dá certo para ele. Pode ser um dia de céu azul, churrasco na piscina e pássaros cantando. Hardy só conseguirá dizer que está quente/seco/úmido demais; que a carne está dura/sem sal/salgada além do necessário e, no fim do dia, para carimbar a alegria, é bem capaz de um pássaro fazer um cocozinho direto na cabeça dele.
Se for ao shopping reclamará que está cheio ou vazio para aquele dia da semana. Se ficar em casa, não conseguirá aproveitar seu espaço e nem seu momento. Resmungará por conta de bagunça/esmero; do barulho/silêncio; de que tem ou não tem algo para fazer. O Hardy não consegue conviver bem sozinho, afinal para quem reclamará? O bom para ele é agourar a vida dos amigos, familiares e até mesmo da pessoa com quem mantém um relacionamento amoroso.
Ele se sente como vítima de tudo e de todos, mas jamais de seus próprios hábitos e pensamentos. Não se pode dizer que uma pessoa otimista não sofra infortúnios. Mortes, doenças, violência, demissões, péssimos relacionamentos acontecem a todo instante, indistintamente, não importando a bondade ou maldade das pessoas no mundo inteiro. O que muda é como cada um de nós responde aos acontecimentos. A pessoa tipo Hardy toma os acontecimentos para si como um fator de castigo, de ‘eu sabia que não ia dar certo’ e pior ainda, de ‘eu avisei’. O otimista, por sua vez, vai sofrer, xingar, culpar-se ou culpar os outros, mas aceitará o caminhar da vida muito mais facilmente.
O processo mental de aceitação do otimista levará menos tempo, embora muitas vezes continue sofrendo ou incorformado. O que difere é que este não viverá dentro de uma novela mexicana, sofrendo todos os capítulos, vertendo lágrimas a cada palavra pronunciada. O Hardy cansa quem está à sua volta. Suga a energia dos que convivem ao seu redor. Mais triste ainda, gasta sua própria energia vital negativamente. Como não consegue agregar nada de positivo para os que convivem com ele, não vislumbra o tempo perdido e o desgaste em sua própria vida.
O Hardy do desenho animado estava sempre na companhia do Lippy, o leão mais otimista da face da Terra, fazendo o contraponto ao seu desânimo e muxoxo. Porém, na vida real os Hardys não costumam ter amigos que os tolerem, justamente por serem um poço de pessimismo. Assim, como bom pessimista, não entenderá que é seu próprio comportamento que os mantém afastado da humanidade e, em um círculo vicioso, culpará os outros. Oh céus! Oh dia! Oh solidão! Oh azar!
*GIANA BENATTO FERREIRA é advogada, membro da Comissão do Direito do Idoso da OABMT
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