Da janela de meu apartamento, ao lado da rotatória do Bairro Santa Rosa, há mais ou menos 12 anos observava com interesse o trânsito complicado, principalmente nos momentos de maior movimento.
Nesses horários todos os dias o congestionamento de veículos chegava a mais de 200 metros de cada lado da pista. O departamento de trânsito da Capital já tentara diversas soluções que nunca funcionaram. A última tentativa foi a instalação de um semáforo programado para operar com diversas fases, mas que não deu certo.
Os administradores públicos são especialistas em arrecadar o dinheiro do povo e torrá-lo em obras de aparência sofisticada para satisfação de suas ciclópicas vaidades
Para ajudar o serviço do ineficiente sinaleiro vários policiais de trânsito juntamente com alguns “amarelinhos” diariamente se esforçavam gesticulando e apitando, o que só aumentava a irritação dos motoristas.
Na busca de solução alguns sugeriram a mudança da entrada do Santa Rosa, outros achavam que a melhor saída era dar um único sentido à Avenida Miguel Sutil, outros ainda defendiam a construção de um viaduto. Todas as idéias dependiam de mudanças radicais e principalmente de muito dinheiro, que a Prefeitura sabidamente não tinha e ainda não tem.
Um dia a solução caiu do céu: um raio atingiu o semáforo e, inutilizando-o temporariamente, deu um dinamismo tão grande ao trânsito que só foi preciso colocar uma faixa avisando aos motoristas que a preferência devia ser de quem estivesse na rotatória.
Foi um santo remédio, nos anos seguintes houve um convívio razoavelmente bom com o volume de carros até que construíram a atual trincheira.
Mas governos e políticos detestam soluções simples porque não geram propinas e não combinam com inaugurações pomposas, onde os mandatários gastam o latim em longos discursos vazios.
Lembro-me desse fato com a instalação recente em Cuiabá dos novos semáforos, cuja utilidade não discuto, mas indago a oportunidade, posto que existem inúmeras demandas da sociedade muito mais urgentes.
Um desses semáforos, instalado na rotatória da Miguel Sutil com o bairro Jardim Cuiabá, ali no Círculo Militar, está em fase de testes. Adaptaram o acesso ao contorno eliminando quebra molas e deixaram o equipamento só emitindo luz de alerta.
Esta semana foram lá os técnicos e o colocaram em funcionamento, mas ao contrário do que esperavam, houve um congestionamento gigantesco na avenida chegando até na trincheira do Santa Rosa, distante quase mil metros do contorno. Desta vez os responsáveis não esperaram um raio oportuno para resolver o problema, diante da confusão rapidamente desligaram o sinaleiro.
Como este, existem por aí inúmeros aparatos mirabolantes e desnecessários, em que foram investidos milhões de reais do dinheiro público e que não trazem nenhum beneficio social.
Os administradores públicos são especialistas em arrecadar o dinheiro do povo e torrá-lo em obras de aparência sofisticada para satisfação de suas ciclópicas vaidades. A eterna busca de votos para se manterem no poder os impele a investir em construções de grande aparência, fachadas imponentes e luzes cintilantes.
No passado a faixa do trevo do Santa Rosa substituiu com eficiência o semáforo. Não fosse o providencial raio talvez ele ficasse lá por muitos anos complicando o trânsito sem que ninguém se lembrasse de desligá-lo.
Não dá pra cravar, por enquanto, que o semáforo da rotatória do bairro Jardim Cuiabá vai complicar o trânsito. De repente os engenheiros têm alguma solução, porque seria lamentável gastar dinheiro para piorar o que já está ruim.
*RENATO PAIVA PEREIRA é empresário e escritor em Cuiabá.
E-MAIL: renato@hotelgranodara.com.br