Na véspera do amistoso contra a Nigéria, o técnico Tite conversou com a imprensa em Singapura, palco de mais um teste do Brasil neste domingo. Seu Adenor voltou a falar sobre o jejum de vitórias da Seleção, que não vence há três partidas.
– O desempenho (é que) me preocupa. E se a equipe está equilibrada. O placar é consequência e nem sempre reflete o que foi o jogo. Não posso ficar refém de resultados. A pressão de vencer é normal, mas tem que ser encarada com discernimento – salientou o treinador (confira a coletiva na íntegra no vídeo acima).
Sobre as poucas mudanças no time – fará apenas duas em relação ao que começou jogando contra Senegal -, o técnico disse que não consegue ser malabarista e que precisa priorizar o ajuste da equipe titular antes de abrir mais oportunidades para caras novas.
– Malabarista para montar a equipe, aquele cara que mexe. O outro para jogar bolinha para cima, aí ficar mexendo com o pé (faz gestos). Não consigo fazer três coisas. Não consigo ajustar a equipe, dar oportunidade e repetir padrão. Queria eu, mas não dá. Tenho que estabelecer prioridades.
Ao lado de Cleber Xavier, Tite concede última entrevista coletiva em Singapura — Foto: Raphael Zarko
Tite explicou as saídas de Alex Sandro e Philippe Coutinho, sacados do time titular no treino deste sábado. Renan Lodi e Everton Cebolinha ganham as vagas.
– A função (de Coutinho) ficou prejudicada na equipe, o desempenho dele. Na fase ofensiva ficou prejudicada. O que tenho de ideia de futebol é o equilíbrio. Quando é excessivamente defensivo ou ofensivo, você sofre. Equilibrar a equipe é nosso desafio. E só na teoria não dá, tenho que colocar para jogar. Se não fica uma coisa aleatória. Está servindo para essa situação. Daqui a pouco pode retornar para faixa central, ou lado direito onde também teve oportunidade.
– O Renan (Lodi) foi em função da sequência do Alex Sandro. Ele vinha de sequência forte no clube, viagem, não estava totalmente recuperado. E tenho no Renan a tranquilidade de botar para jogar. Teve ascensão muito grande. Oportunidade – completou.
Veja outras respostas de Tite na entrevista coletiva:
Mudança na forma de jogar
– Nós temos mudado a forma de jogar, as funções até mais que a forma. Tem servido para esses ajustes, experimentos. A gente fica com essas opções, retomada da oportunidade para o Everton, jogador de flanco. Neymar, Firmino. Jogadores de profundidade de lado, armação. Por isso a opção pela saída do Coutinho. Está servindo para série de ajustes. E não são simples, porque quando você muda característica você muda a mecânica da equipe.
Se o resultado contra Senegal tivesse sido melhor, daria mais oportunidades?
– Sim. Tem uma lógica em relação a isso. Você não consegue fazer duas, três coisas ao mesmo tempo. Uma pode atrapalhar a outra. Se eu estou buscando opções em termos táticos, fase ofensiva, fase defensiva, de dois jogadores de velocidade ou três articuladores. A equipe está desequilibrada e procura se equilibrar. Serve para fazer ajustes. Mas qual o processo? Prioriza esse ajuste, equilíbrio da equipe. E dentro do jogo você pode dar oportunidades.
Posicionamento de Neymar e do ataque brasileiro
– Desenho da Copa América. Dois homens por dentro, uma dupla de atacantes, Neymar e Firmino. Dois homens de lado, dois meio-campistas posicionais. Fase ofensiva, dois agudos que dão profundidade, articulação e liberdade no setor central. Apoio alternado, não sobrecarrega ele para um retorno lateral porque depois fica sem força para chegar na frente. Abre área de ação maior. Ele vem jogando assim no PSG bastante. Depois do Barcelona ele começou a ser usado numa posição central.
Função de Firmino
– O que Firmino vai fazer? A mesma função que ele tem no Liverpool, com dois jogadores. Lá ele tem Mané e Salah de velocidade. Então ele vai ter dois do lado. Que é onde o Coutinho também se deu bem. Com o Coutinho do lado, a gente perdeu agressividade. Eu prejudiquei as ações de Coutinho, Neymar e Firmino. Porque tenho que testar. Uma equipe é um organismo vivo, se ajusta de uma forma que possa crescer. Fiz, não deu. O Gabriel (Jesus) está bem do lado direito.
Chateado com a falta de competitividade em amistosos?
– Eu sou muito mais do que aquilo que vocês têm informações a mais respeito. Sou muito mais de um lado ruim e muito mais de um lado bom. Sou mais do que me conhecem, dos dois lados. E esses lados tem informações que são passadas só para os atletas. Fiquei chateado, sim. Externei, sim. Mas entendo que tenho que dar minha parcela de contribuição para que a coisa possa fluir. Mas teve uma série de coisas que determinaram isso de “não competir” que é bastante abrangente. Série de fatores, e não quero entrar neles.
Jogadores pediram para serem poupados por conta de questão física?
– Não. Tem algumas coisas que a decisão é da comissão técnica. Eles não se manifestaram, mas eu quero encontrar esse padrão e esse equilíbrio. Quero oportunizar atletas diferentes, para a engrenagem voltar a funcionar. Para chegar numa competição oficial, por exemplo, mesmo correndo risco de resultados. Preciso fazer para chegar numa Copa América onde preciso de desempenho e resultado. Ou nas eliminatórias ou numa Copa do Mundo. Teve por parte do departamento físico o tempo hábil de recuperação, com exceção do Alex Sandro, que fica no banco. E claro que vamos monitorar atletas durante o jogo.
Pensando em como arrumar melhor a defesa?
– Sistema marca, posição, função marca. Não é a defesa. Função de cada um, organizar de forma equilibrada. Criação, conclusão, solidez. Com bola, sem bola. Foge desses princípios, fica mais vulnerável e pode gerar intranquilidade. Teve momento de buscarmos oportunizar. Oportuniza lateral apoiador. Esses ajustes, irregularidades, a fase permite. É um aprendizado. Inevitável. O primeiro meu, inclusive.
Pretende usar Gabigol?
– Não posso dizer. Seria leviano, demagogo de fazer média com torcedor. Vamos tentar olhar o jogo. O apelo, eu sei, da equipe do Flamengo. Outros atletas ainda poderiam ser convocados, não vou entrar no mérito. Rodrigo Caio retornando, ele retornando. Já traz valorização importante. Treinamento, conversas permitem evolução. Não quero ser falso simpático e depois a coisa não se apresentar.
Recado e mensagem para as crianças
– Vou ser orgulhoso. Talvez o maior mérito que tenha comigo. Campeão da Copa América com o troféu fair play. Campeão da Libertadores com o troféu fair play. Campeão do mundo e paulista sendo fair play. Brasileiro, pelo Corinthians, tendo fair play. Dá para ganhar sendo melhor sem ter jogo sujo. Dá para ganhar tendo orgulho de ser melhor. Para a criança passa. Talvez para os adultos soe como “bonzinho”. Para quem me conhece, não. Talvez seja minha maior contribuição. Talvez não, é.
Se Alex Sandro tivesse 100%, jogaria?
– Não tenho certeza, mas brigaria pau a pau (risos). Porque minha vontade também era de oportunizar o Lodi, que teve crescimento importante.
– Aliás, sobre o Lodi, deixa eu fazer um esclarecimento. Ele foi convocado para o sub-23, o clube não liberou e ele queria vir. Ele estava preocupado em relação a isso. É bom passar a imagem para o torcedor saber. Falei com ele: “Fica tranquilo, Lodi. Sabemos da sua vontade e que o clube não liberou”. Porque depois pode passar a imagem que ele não quis vir para a sub-23. Foi o clube que não liberou, e ele queria vir. E agora veio para a principal. (Globo Esporte)