Vencedor do Grande Prêmio do Júri do Festival de Cannes de 2018, o filme ‘Infiltrado na Klan’, do sempre instigante Spike Lee, é uma aula de como os ódios e preconceitos podem se espalhar por todos os lados. Nesta obra, baseada num caso real, o diretor consegue levar o espectador a um raciocínio permanente sobre o que pensamos sobre o assunto, tanto sendo objeto do preconceito como motivando-o de maneira consciente ou inconsciente.
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O ponto de partida da narrativa é a história real de Ron Stallworth, um policial negro do Estado do Colorado que, no final dos anos 1970, conseguiu se infiltrar na Ku Klux Klan local. Fez isso por meio de telefonemas que lhe foram dando cada vez mais destaque na organização. Já nos eventos presenciais, quem fazia o seu papel era um outro policial, de família judia, preparado por ele para a função.
Paralelamente, ao monitorar as ações do grupo Panteras Negras, Ron envolveu-se com uma líder negra universitária local. As posições extremistas desse movimento são também colocadas em xeque, já que o filme busca sempre levar a um pensar equilibrado, algo difícil num universo de tensões raciais, políticas e sociais constantes.
As falas do detetive, de seu parceiro, dos integrantes da Klan e de militantes dos Panteras Negras constituem um painel que encontra ecos na sociedade americana e na brasileira de hoje. Não há mais capuzes ou punhos cerrados explícitos, mas uma incapacidade para o diálogo produtivo e democrático que preocupa. O filme alerta, acima de tudo, para a necessidade de saber argumentar e conversar, mesmo quando parece não haver espaço para isso.
*OSCAR ALEJANDRO FABIAN D’AMBRÓSIO é mestre em Artes Visuais e doutor em Educação, Arte e História da Cultura, é Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo; atua na Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp.
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