No início desse mês, pesquisadores a bordo do navio de pesquisa Nautilus, ao olhar as imagens captadas por seu robô de reconhecimento subaquático, se depararam com uma criatura mole e sem membros, deslizando pela água como um fantasma rosado. Em seu interior, era possível ver uma mancha vermelha se mexendo.
A criatura, pairando sobre o fundo do oceano, é uma das mais raras e pouco estudadas águas-vivas do planeta, a Deepstaria enigmática — ela recebeu esse nome em homenagem ao Deepstar, submergível que a avistou pela primeira vez, em 1966. Desde então, foram vistas menos do que uma dezena de vezes.
Pouco se sabe sobre essas águas-vivas. A que o Nautilus encontrou estava nadando em águas profundas, a cerca de 750 metros da superfície, no Pacífico Central, a meio caminho entre os EUA e a Austrália.
O que se sabe sobre a D. enigmatica até agora dificilmente encheria uma página de um livro de zoologia (mas sempre se pode contar com as imagens, absolutamente surreais): ela é como um fantasma, mudando de forma constantemente e expandindo o corpo para engolir suas presas.
A mancha vermelha no interior do espécime encontrado pelo Nautilus era um isópode, pequenino crustáceo sem carapaça (os tatuzinhos de praia são dessa ordem) que deve ter se enfiado no meio da água-viva em busca de proteção contra predadores. Os isópodes costumam parasitar outros animais (são onívoros e comem carniça) e já foram vistos no interior de outras Deepstaria (como se dá a relação simbiótica entre eles, ainda não está claro).
Primeiro encontro
Em 1967, o biólogo marinho Frederick S. Russell descreveu o primeiro encontro com a Deepstaria enigmatica:
“Durante o Mergulho 159 do submersível Deepstar 400, em 22 de outubro de 1966, o Dr. Eric G. Barham, o Dr. George Pickwell e o Sr. Ronald Church coletaram um notável cifomodusano a uma profundidade de 723 metros da calha de San Diego. Quando vista pela primeira vez, a água-viva de encolheu e seu corpo, em forma de guarda-chuva, recuou. Nos dois lados do corpo existem dois grandes processos tubulares. Ela apresenta um tom marrom amarelado, e seu sistema de canais radiais é impressionante, consistindo em uma malha – ou, nas palavras do Dr. Barham, é como uma rede de arame.”
A equipe do Nautilus espera topar com outros exemplares de Deepstaria, já que sua missão se estende até fins de outubro. Pra quem quiser acompanhar ao vivo as aventuras da tripulação, o site da missão mantém três canais de streaming ao vivo, que podem ser acessados aqui.