O Brasil terminou a Copa do Mundo de Basquete no 13º lugar. Derrotado por República Tcheca e Estados Unidos na segunda fase, a equipe perdeu a chance de seguir para as quartas de final e de ficar vivo em busca de uma das duas vagas olímpicas das Américas para Tóquio 2020 através do torneio. Não vejo, contudo, um cenário de terra arrasada após os cinco jogos na Ásia, com três triunfos e duas derrotas. Mas, existe, sim, a preocupação com o futuro próximo do basquete brasileiro, já que mais uma vez o núcleo mais velho, esse em seu último Mundial, ditou as regras, teve todos os cestinhas e não estará em ação no próximo ciclo olímpico.

Antes de sair do país, a seleção era vista como um azarão no Grupo F. Venceu Nova Zelândia, Grécia e Montenegro, e se classificou como o primeiro colocado. Muitos achavam que o time ficaria ainda em Nanquim. Mas, fez jogos interessantes, mostrou consistência defensiva. E paciência no ataque, sem rifar a posse. O elenco também encaixou com as ideias do croata Aleksander Petrovic, o que já era visto nas Eliminatórias. Apesar da exclusão contra os Estados Unidos, onde perdeu os nervos, não deve-se descartar seu ótimo trabalho até aqui. Só que todos esses predicados não foram o suficiente para bater República Tcheca e Estados Unidos na segunda fase, quando veio a realidade e a eliminação, para mim, exatamente no estágio em que imaginei ser possível chegar, ou seja, garantindo um lugar no pré-olímpico.

Em todo o Mundial e que fique claro que não é uma caça às bruxas, Anderson Varejão foi o único pivô confiável. E aqui abro um parênteses. Diante dos Estados Unidos, Varejão “engoliu” os cincões americanos com fintas, floaters. Fez de tudo. Aos 36 anos, mostrou que ainda tem lenha para queimar caso queira. Cristiano Felício, atlético, deixou a desejar, apesar do bom jogo diante de Montenegro na primeira fase. Augusto Lima, que podia trazer mais energia durante alguns jogos, foi descartado ainda na primeira fase e não ganhou mais minutos.

Bruno Caboclo, nosso quatro, e também jogando de cinco em alguns momentos, realmente renasceu para o basquete. É um defensor nato. E ajudou demais na tática de Petrovic nesta Copa do Mundo. Só que precisa se desenvolver ofensivamente. Um cara com sua altura e envergadura não pode se contentar com as tentativas para bolas de três pontos. É preciso atacar o aro. E talvez a próxima temporada da NBA, com mais moral no Memphis Grizzlies, o ajude nisso.

Huertas, aos 36 anos, foi outro que fez ótimo Mundial. Começou devagar, mas engrenou no fim da primeira fase. E diante dos Estados Unidos tinha sangue nos olhos. Após os 40 minutos, era fácil ver sua indignação com a derrota. Nos dois últimos confrontos, contra tchecos e americanos, senti sua falta nos terceiros quartos em que o Brasil acabou derrotado. Sai do seu quarto Mundial de cabeça erguida. E o mesmo serve para Rafa Luz. Se chegou contestado, alguém consegue ver o Brasil no próximo ciclo olímpico sem ele no trio de armadores com todas as qualidades defensivas que ele mostrou na China?

Brasil x EUA pela Copa do Mundo de basquete — Foto: Divulgação Fiba

Brasil x EUA pela Copa do Mundo de basquete — Foto: Divulgação Fiba

Marquinhos, provavelmente em seu último Mundial, me pareceu tímido. Bateu pouco para dentro, como faz no Flamengo. Teve uma lesão no pré-Mundial e também quase foi cortado. Mas foi importante em ao menos duas partidas com suas bolas de três. Quem engrenou e mostrou que será importante nessa transição de gerações foi Benite. Contra tchecos e americanos, foi nossa bola de segurança. Ótimo gatilho de três. Com confiança, pode ajudar muito no ciclo para Tóquio e ainda Paris 2024. Leandrinho, quando acionado, mostrou segurança. Ainda é um jogador fundamental. Que esteja no pré-olímpico do ano que vem.

Fica a dúvida sobre o quanto a viagem valeu tecnicamente para Didi e Yago, nossos mais jovens. Os meninos de 20 anos. Fora de quadra, é certeza, aprenderam muito. Com o convívio, as experiências. Mas, dentro dela, principalmente Didi, que teve mais minutos, poderia ter mostrado mais o que sabemos que ele é capaz. Didi é certamente o futuro da seleção brasileira. E sua temporada no Sydney Kings vai ser importante para prepará-lo para a NBA. Yago, pela coragem quando esteve em quadra, apesar de alguns erros, fica o ensinamento de que é preciso evoluir ainda mais nas bolas de três caso queira ter sucesso em um mundo de gigantes.

E o que falar de Alex Garcia? O mais velho da seleção talvez tenha sido o craque brasileiro na Copa do Mundo. Se recuperou de uma grave lesão muscular em tempo recorde. Parou Antetokounmpo. Bateu de frente com americanos aos 39 anos. Seu sacrifício e entrega para a seleção merecem todos os aplausos. Em fevereiro, Alex me disse que essa Copa do Mundo era a sua última pela seleção. Difícil pensar que não tenha sido. Então, obrigado, Alex.

Apesar da eliminação, gostei do que vi aqui em Shenzhen, principalmente no que diz respeito a postura do time. Em nenhum jogo o Brasil abaixou a guarda. Nem na derrota gigante para a República Tcheca. Tudo deu errado, o jogo não encaixou, mas não teve corpo mole. Não dá para dizer, porém, que essa geração talentosa, que tanto se esperou, não agora, mas principalmente no passado, encerra sua passagem por Mundiais sem um pódio, não entregando o que se esperou pela qualidade que tem.

A preocupação, como disse lá no começo, está no futuro próximo desse time. Na China, não desenvolvemos nossos jovens como poderíamos, e também não seguimos no torneio com nossos veteranos, por melhor que tenham jogado. Será preciso um plano bem executado para os próximos anos. Quem chega? Quem segue? Raulzinho pretende jogar pela seleção novamente? É possível recuperar Lucas Bebê, que é importante. Lucas Dias, Léo Meindl, entre outros, vão finalmente atingir internacionalmente o patamar que sabemos que podem?

Por fim, sem desmerecer o mérito dos argentinos, classificados para Tóquio 2020 via Mundial, é preciso dizer que chave do torneio na China foi cruel com o Brasil. Só jogo duro. Só rivais pesados. Do outro lado, os hermanos trombaram com Coreia do Sul, China e Rússia na primeira fase. E Polônia e Venezuela na segunda. Méritos, contudo, para o dever de casa deles, sempre muito bem feito. E pela renovação bem sucedida, com jovens com papel de destaque em um time que tem Luis Scola como líder. Hermanos seguem vivos nas quartas de final, só para citar.

(Globo Esporte)