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MARCELO SENISE

No xadrez político digital, onde algoritmos ditam o ritmo e a verdade é um ativo volátil, o maior desafio não é combater a mentira, mas a inação. Seu dilema? As 6 horas de silêncio que você permite que a narrativa adversária se estabeleça. Este é o novo jogo, e a Blindagem é a única estratégia de sobrevivência.

Senhores políticos e seus arquitetos das narrativas, engenheiros da comunicação política, timoneiros das embarcações que navegam nos mares da desinformação. Vocês sentem o chão tremer. As antigas máximas, os manuais que outrora garantiam vitórias, hoje soam como sussurros de um passado distante. Em 37 anos de mercado, construindo e defendendo reputações, forjei uma verdade que ecoa como um trovão, sintetizando o novo dilema: Você não perde uma eleição por uma mentira; você perde por 6 horas de silêncio.

Este não é um exagero, mas a realidade brutal do campo de batalha digital. A Inteligência Artificial (IA) não é apenas uma ferramenta; ela é o epicentro de um ecossistema onde a propagação da informação – e da desinformação – atinge velocidades e alcances sem precedentes. Vivemos na era da Pós-Verdade, onde a percepção usurpa o lugar do fato, e o caos se instala quando a “delicadeza” da informação vira um redemoinho incontrolável. Não se trata mais do boato de corredor, mas de um tsunami digital. Estudos do MIT, já em 2018, mostravam que fake news se espalham seis vezes mais rápido que notícias reais – e isso foi antes da IA generativa em massa, que hoje amplifica essa proporção exponencialmente. Deepfakes criam realidades alternativas com rostos e vozes sintéticas perfeitas; algoritmos de IA micro-segmentam públicos para disseminar narrativas específicas; exércitos de bots manipulam tendências e amplificam mentiras. O custo técnico e operacional para lançar um ataque digital caiu a zero; ignorá-lo é arrisca

Minha jornada profissional, validada por uma profunda crise pessoal, me concedeu uma perspectiva única sobre a mecânica deste novo dilema. Compreendi, na pele, o que significa ter a própria narrativa em cheque e a urgência de uma Blindagem proativa. Não sou um mero teórico; sou alguém que entende, visceralmente, como a reconstrução exige mais do que integridade: exige estratégia, lastro e velocidade. Essa experiência consolidou minha autoridade para afirmar que a Blindagem não é um escudo passivo, mas um filtro ativo, ligado antes que a gota de tinta turve a água. E se turvar, a capacidade de limpá-la em minutos.

Para enfrentar o dilema da comunicação política na era da IA, sua estratégia precisa ser uma arquitetura proativa, sustentada por quatro pilares inegociáveis. O primeiro é a Inteligência aliada à Contranarrativa, onde IA e Big Data funcionam como bússola para detectar o “sinal fraco” e transformar a verdade em munição potente. Em seguida, a MAV, a Infantaria Digital Implacável, que mobiliza a base engajada para viralizar narrativas autênticas e preencher o vácuo deixado por qualquer hesitação. O terceiro pilar é a Legalidade e Ética, que, mais do que escudos, são diferenciais estratégicos que constroem credibilidade inabalável, mesmo em ambientes propensos a ataques sujos. Por fim, a Inteligência Artificial como seu Cérebro Otimizado, uma ferramenta a ser dominada com maestria para análise preditiva, automação e monitoramento, otimizando ou desintegrando sua comunicação dependendo de sua responsabilidade.

A teoria, por si só, não basta; a Blindagem se prova na virada de jogos reais. A eficácia desses pilares se manifesta em cenários onde um candidato sob ataque, com desvantagem significativa, utiliza a inteligência para expor falhas sistêmicas ou contradições do adversário. Com a MAV e uma estratégia criativa de contraponto, a narrativa é transformada, desmascarando a hipocrisia e culminando em reviravoltas históricas. Em outras situações, diante de uma tentativa de desconstrução por poderosos veículos de comunicação, a estratégia reside em pautar o jogo, usando a força do adversário contra ele com lastro inquestionável, defendendo-se com verdades incômodas que expõem um panorama maior. Em todos esses cenários, a Blindagem não é passiva, mas uma poderosa combinação de Lastro (fatos irrefutáveis), Velocidade (agir antes das 6 horas críticas) e Ousadia (a coragem de virar o jogo).

A Blindagem, hoje, não é um fardo defensivo, mas uma vantagem estratégica decisiva. É a capacidade de pautar a agenda, controlar a narrativa e transformar sua reputação em um ativo inabalável. Minha experiência me ensinou que as cicatrizes não são fraquezas, mas fontes de uma sabedoria que, quando aplicada estrategicamente, se torna a Blindagem mais potente que existe. O próximo pleito será o primeiro grande pleito da IA, com deepfakes, bots e narrativas complexas à espreita. Quem chega primeiro com fatos claros, voz preparada e processos ensaiados, não simplesmente “vence a mentira”; ele a torna totalmente irrelevante. Senhores arquitetos, engenheiros, timoneiros: não sejam pegos pelo silêncio. Saibam como se blindar. E que a verdade, a sua verdade – inclusive a sua vulnerabilidade estratégica – prevaleça. O futuro da comunicação política pertence a quem dominar a Complexa Arte da Blindagem.

(*) MARCELO SENISE é Estrategista Politico, Presidente do IRIA – Instituto Brasileiro para a Regulamentação da Inteligência Artificial político Fundador da Agência Social Play e CEO da CONECT IA. Especialista em inteligência artificial aplicada na Comunicação Política e autor do livro “A Delicada (ou não) Arte da Desconstrução Politica”.

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