O esqueleto do cachorro foi encontrado no fundo do antigo leito do lago. Para que os ossos pudessem ser examinados com calma e tranquilidade, eles e a camada circundante foram retirados em três etapas — Foto: Ministério do Meio Ambiente Sueco

Arqueólogos que atuam em escavações preventivas associadas à construção da ferrovia de alta velocidade Ostlänken, no sul da Suécia, identificaram um sepultamento excepcional datado de cerca de 5 mil anos. A descoberta foi anunciada nessa segunda-feira (15), em um comunicado publicado pela Autoridade Sueca de Museus Históricos.

De acordo com os especialistas, os achados estavam em uma área pantanosa em Logsjömossen que, na Idade da Pedra, foi um antigo lago, onde as comunidades humanas praticavam pesca. Por ali, eles encontraram um esqueleto quase intacto de um cão depositado de forma deliberada a cerca de 1,5 metro de profundidade e a aproximadamente 30 a 40 metros da margem original.

O animal não descansava no fundo do lago sozinho. Junto dele, ainda se verificou a presença de uma adaga de osso finamente trabalhada. Isso levou a equipe responsável a interpretar o conjunto como o resultado de um ato ritualístico, e não apenas de um descarte comum.

Indícios de um ritual cerimonial

O animal era um cão macho, grande e robusto, com cerca de 52 centímetros de altura na cernelha e idade estimada entre três e seis anos. O crânio estava esmagado, e o seu corpo foi provavelmente colocado dentro de uma bolsa de couro ou recipiente semelhante, junto com pedras, para garantir que afundasse até o fundo do lago.

As patas do cachorro estavam parcialmente na posição anatomicamente correta — Foto: Ministério do Meio Ambiente da Suécia
As patas do cachorro estavam parcialmente na posição anatomicamente correta — Foto: Ministério do Meio Ambiente da Suécia

Ao lado das patas estava uma adaga de aproximadamente 25 centímetros, feita de osso de alce ou de cervo-vermelho e cuidadosamente polida. Segundo Linus Hagberg, arqueólogo e gerente da escavação, encontrar um cão bem preservado desse período já é algo extremamente raro, e a associação direta com uma adaga torna o achado “quase único” no contexto arqueológico sueco.

Hagberg explica que o uso de cães em práticas rituais é conhecido para a Idade da Pedra no norte da Europa. Além disso, adagas desse tipo são consideradas objetos com forte carga simbólica e já foram encontradas em outros ambientes alagados da Suécia pré-histórica. O depósito conjunto reforça a interpretação de um ritual realizado por comunidades que exploravam o lago para subsistência.

Próximas etapas da pesquisa

Além do sepultamento do cão, as escavações revelaram uma série de vestígios que ajudam a reconstruir a paisagem e o modo de vida da região há milênios. Entre os achados estão:

  • Estacas de madeira crvadas no fundo do lago, possivelmente restos de píeres ou plataformas;
  • Pedras dispostas de forma organizada que podem ter servido como âncoras ou pesos; e
  • Armadilha de pesca com cerca de dois metros de comprimento feita de galhos de salgueiro entrelaçados (mjärde).

s arqueólogos também identificaram áreas no sedimento com marcas de pisoteio, indicando pontos onde pessoas permaneceram ou se movimentaram dentro da água, provavelmente para manejar armadilhas ou recolher peixes. As estruturas de madeira encontradas foram datadas entre 3.300 e 2.600 a.C., o que confirma o uso prolongado do lago ao longo da Idade da Pedra.

Com o trabalho de campo concluído, os achados passam agora por análises laboratoriais, incluindo datação por carbono-14, análises isotópicas e exames de DNA. Esses estudos devem esclarecer quando o cão viveu, o que ele comeu e como se relacionava com os humanos que o criaram, oferecendo novas pistas sobre as práticas sociais, econômicas e simbólicas das comunidades pré-históricas da região.

A área úmida é investigada em pequenos poços para evitar a intrusão de água — Foto: Ministério do Meio Ambiente
A área úmida é investigada em pequenos poços para evitar a intrusão de água — Foto: Ministério do Meio Ambiente

(Por Arthur Almeida)