A estrutura faz parte do Parque Arqueológico das Termas de Baia, área costeira da cidade italiana de Bacoli que concentra outras ruínas, como o os templos de Diana e de Mercúrio — Foto: Tyler Bell/Wikimedia Commons

O pequeno porto de Baia, localizado próximo à cidade de Nápoles, na Itália, abriga uma estrutura única com quase 2 mil anos de idade. O Templo de Vênus, construção restante do que aparenta ter sido um grande complexo de banhos públicos, resiste ao tempo, como aquelas causadas pela intensa atividade vulcânica dos Campos Flégreos, região italiana marcada pelo vulcanismo.

Mas como isso foi possível? De acordo com pesquisadores das universidades de Nápoles Federico II e Chieti-Pescara, a resposta está nos diferentes materiais usados para a construção do edifício romano. Rochas vulcânicas, algumas vindas do Monte Vesúvio, teriam contribuído para a resistência do templo, como sugere estudo publicado em novembro na revista científica Geoheritage.

Passado romano ainda de pé

A estrutura do Templo de Vênus é datada do século 2 d. C., quando o imperador Adriano ordenou a sua construção. O nome do local está associado à deusa romana do amor e da beleza pela descoberta de uma estátua no século 16. Apesar de ser descrito como um templo, ele foi projetado para um outro propósito: integrar um grande complexo termal de locais de banho públicos.

O templo é um exemplo de arquitetura romana da era imperial. Segundo os pesquisadores, os nichos da construção se abriam para o salão central e serviam de acesso a outros salões menores, onde provavelmente se localizam as piscinas do complexo — Foto: Mentnafunangann/Wikimedia Commons
O templo é um exemplo de arquitetura romana da era imperial. Segundo os pesquisadores, os nichos da construção se abriam para o salão central e serviam de acesso a outros salões menores, onde provavelmente se localizam as piscinas do complexo — Foto: Mentnafunangann/Wikimedia Commons

“A planta era octogonal no exterior, circular no interior, e sua cúpula é chamada de ‘guarda-chuva’ devido ao formato das diferentes seções que a compõem. (…) O complexo termal destinava-se ao cuidado do corpo e, muito provavelmente, à cura da doença que afligia o imperador Adriano. (…) Diversas atividades eram realizadas no edifício, de políticas a sociais, de comerciais até de disseminação cultural”, descrevem os pesquisadores.

Afetada pelo fenômeno geológico “bradissismo” – movimento vertical da crosta terrestre causada por ação vulcânica –, a construção já afundou cerca de seis metros abaixo do nível atual do solo. Ainda assim, seu estado notável de conservação numa área geologicamente ativa intriga os cientistas.

Fundação em rochas vulcânicas

Os pesquisadores coletaram ao todo nove amostras de várias partes do templo, incluindo a argamassa, os tijolos, as rochas vulcânicas e o revestimento branco que se forma nas paredes (eflorescência). Segundo comunicado, análises feitas utilizando técnicas como microscopia petrográfica e difração de raios X puderam definir as composições dos materiais selecionados para erguer o templo há quase 2 mil anos.

As rochas encontradas nas paredes do Templo de Vênus apresentavam composição heterogênea, com argamassas feitas à base de cal e tijolos contendo sedimentos de minerais de silicato — Foto: Rosario Antonini/Geoheritage
As rochas encontradas nas paredes do Templo de Vênus apresentavam composição heterogênea, com argamassas feitas à base de cal e tijolos contendo sedimentos de minerais de silicato — Foto: Rosario Antonini/Geoheritage

Tanto as argamassas quanto os tijolos examinados apresentaram uma quantidade significativa de partículas vulcânicas, condição que poderia fortalecer a estrutura do templo para resistir à degradação. Os pesquisadores sugerem que a presença desse tipo de material na construção pode ter sido uma adição intencional. A teoria indicaria que os engenheiros romanos tinham bastante conhecimento sobre a geologia do terreno e o que poderia contribuir para a resistência das estruturas do edifício.

Outros detalhes descobertos envolvem a origem dessas rochas vulcânicas: algumas eram da própria região dos Campos Flégreos, enquanto outras vinham da região vulcânica Somma-Vesúvio, a mais de 40 km de distância. Por isso, acredita-se que os romanos selecionavam de forma especializada os recursos a serem utilizados nas paredes e elementos de sustentação de suas construções.

(Por Fernanda Zibordi)